Nunca gostei da palavra “amo-te”.
Este “amo-te”, ainda que seja um verbo, dá ideia de substantivo. Parece algo estagnado. E a verdade é que, quando penso no Amor de Deus – que é o verdadeiro Amor – penso em algo contínuo, que nunca estagna, que está em constante movimento, como algo que nos acompanha por onde vamos, seja pelos caminhos luminosos ou pelos mais escuros. A cada passo, Deus está a Amar-nos. Como um verbo copulativo que nunca aparece sozinho. Com ele, vem sempre o nosso nome, a nossa vida, as nossas dúvidas e contradições.
Porque Deus não Ama (ponto final). Não é um Amor abstrato. Deus Ama cada um de nós a cada passo que damos. Assim, o Amor de Deus não pára, tal como nós não paramos (se bem que às vezes nos fizesse bem estar quietos). O Amor acompanha-nos, em liberdade, a cada passo.
Quase que me faz mais sentido dizer “estou a amar-te” do que “amo-te”. Não perde, por isso, o seu peso e a sua força, e parece que dá mais espaço às tribulações da vida e a esta beleza do Amor de podermos, a cada dia, escolher Amar. Como um Mistério que continuamente se repete, se atualiza, como a Eucaristia.
Não houve uma Eucaristia com valor eterno, que ficou estagnada na História. Há uma Eucaristia a cada hora, em cada Igreja e capela, em cada cidade, em cada canto mais desconhecido deste mundo. Em cada um desses lugares, a cada uma dessas pessoas, Jesus entrega-Se por inteiro. Está a entregar-Se. Até aos que escolheram ficar em casa. E o que é a Eucaristia senão a manifestação máxima deste Amor de Deus por nós?
É assim que eu sinto que Deus me Ama. Não de forma abstrata e estagnada, como quem olha para fora de si e diz “está ali o Amor de Deus!”. Deus escolhe Amar-me a cada passo que eu dou – independentemente de para que lado for e quer eu me aperceba disso ou não – na minha realidade do dia de hoje.
Estou a amar-te.
Deus está a Amar-me.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.