Fechadas as eleições europeias e encontrando-se as eleições legislativas no horizonte próximo, lamenta-se a alta taxa de abstenção verificada e realizam-se as necessárias leituras para compreender os respetivos resultados.
Nas eleições para o Parlamento Europeu, em Portugal e nos restantes países da União Europeia, uma larga maioria de cidadãos opta por não votar. Dos que votam, são, cada vez mais os que escolhem depositar o seu voto em forças políticas que, no essencial, defendem o fim do projeto europeu. Visto do lado inverso, os europeus que defendem a União Europeia e que participaram nas eleições europeias são, na atualidade, uma pequena minoria.
As possíveis explicações para esta situação são muitas e variadas. Uma, no entanto, merece mais destaque pelo consenso transversal que parece recolher, junto dos partidos políticos e dos jornalistas e comentadores de política: a, conhecida e permanente, dificuldade em passar a mensagem.
Da esquerda à direita, todos parecem concordar que existe, hoje, uma reduzida capacidade de mobilização dos eleitores, devido a uma evidente dificuldade de levar a mensagem até às pessoas, em condições de estas a perceberem e se sentirem mobilizadas para a participação política e cívica, através do exercício do seu direito de voto.
Há, no entanto, nesta análise, um pressuposto de frágil sustentabilidade: o de que há uma mensagem. E é aqui que se encontra o centro de gravidade do problema. Na realidade, frequentemente, não há qualquer mensagem e, portanto, torna-se impossível levar o que não existe ao conhecimento de quem quer que seja.
A existência de uma mensagem é um elemento estruturante da política. A mensagem política consiste no conjunto de propostas que se apresenta aos eleitores e nas quais estes poderão encontrar informações importantes e decisivas para formularem um juízo de valor e tomarem uma decisão, de acordo com os seus interesses e os da coletividade em que vivem e participam e que se estruturam em torno de três dimensões:
i) os valores e os princípios que determinam as fronteiras axiológicas da proposta que se apresenta, assumindo-se, com clareza, uma resposta às questões: A favor do quê? A favor de quem?
ii) as grandes finalidades que se pretendem atingir, com a concretização de um programa de ação política e que respondem, de forma aberta à questão: Para quê?
iii) as linhas de ação política que, concretizando e materializando as finalidades e respeitando os valores e os princípios, traduzem a resposta à questão: Como?
O problema é que, na generalidade dos casos, as diferentes forças políticas não cumprem a parte que lhes compete: formular as questões e apresentar as suas alternativas de resposta
Quatro questões elementares – entre outras que se poderiam formular – que deveriam determinar quatro respostas claras e que permitiriam que cada pessoa realizasse o seu exercício pessoal de análise, comparação e decisão, relativamente às diversas alternativas que se lhe ofereciam, em cada momento eleitoral.
O problema é que, na generalidade dos casos, as diferentes forças políticas não cumprem a parte que lhes compete: formular as questões e apresentar as suas alternativas de resposta. Por outras palavras, não apresentam linhas políticas de ação concretas, fundadas e coerentes com grandes finalidades sociais e estruturadas em princípios e valores. Não têm, portanto, qualquer mensagem.
Há, no entanto, quem tenha mensagens claras e mobilizadoras. As forças políticas até agora localizadas nos extremos do espectro político são, na atualidade, exemplos de construção de mensagens claras e de capacidade de as entregar aos cidadãos. Mensagens disruptivas e populistas ancoradas em valores como a intolerância, a discriminação, a xenofobia, os nacionalismos ou o confronto político, económico ou bélico.
Natural e compreensivelmente, estas formações políticas têm vindo a conquistar um espaço e uma influência crescentes na generalidade dos países da União Europeia e representam, na atualidade, uma percentagem importante dos deputados do Parlamento Europeu. Alguns países europeus têm, inclusivamente, governos suportados por maiorias parlamentares constituídas por partidos políticos com estas características.
A ascensão dos populismos e dos extremismos decorre – entre outros fatores mais complexos – de uma elementar realidade: as forças populistas e disruptivas têm uma mensagem clara e mobilizadora, enquanto as restantes forças políticas não conseguem construir e divulgar uma mensagem com aquelas características. Neste confronto político, os cidadãos têm vindo a escolher, crescentemente, as primeiras ou, em alternativa, a não escolherem.
Este é o drama das democracias europeias: a ausência de mensagens mobilizadoras estruturadas em valores como a Liberdade, Democracia, Igualdade de Oportunidades, Solidariedade, Inclusão, Cooperação ou Paz, Esta realidade criou o espaço e o contexto adequados para o nascimento e difusão de mensagens alicerçadas em valores como a Intolerância, Nacionalismo, Conflito, Desigualdade ou Xenofobia.
Entre uma mensagem e uma ausência de mensagem, o que escolher?
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.