No extremo ocidental de uma Europa em guerra, num país que buscava a estabilidade após a revolução, num ambiente rural longe do bulício das grandes cidades, Nossa Senhora aparece a três pequenos pastores: Jacinta, Francisco e Lúcia. E as palavras que lhes dirige, a missão que lhes confia e suplica que aceitem, é evangelho: rezem e ofereçam as vossas vidas pela conversão do mundo.
O que Maria pede aos pastorinhos está ao alcance de qualquer um de nós: reza, encara as pequenas dificuldades do teu dia sem ignorar o sofrimento do irmão e, movido pela dor dele e pelo amor por ele, vive com um coração simples, disponível para amar.
Oração, compaixão, conversão. Fátima recorda-nos o essencial. E lança-nos no caminho da santidade.
As vidas dos santos Jacinta e Francisco, e da serva de Deus irmã Lúcia, são luz nos indispensáveis pequenos passos da santidade. Há que começar pela oração, pela relação com as pessoas da Trindade ou com Nossa Senhora, uma relação afetiva onde colocamos o nosso coração nas suas mãos, e abrimos os nossos ouvidos aos seus apelos, que são os apelos dos nossos irmãos e de toda a Criação. Que são os apelos dos corações de Maria e de Jesus.
Este escutar será o despertar das anestesias quotidianas com que nos isolamos do mundo. Deixemos que as dores dos nossos irmãos habitem os nossos corações. Enfrentemos cada uma das nossas pequenas dores tendo presente os sofrimentos do outro.
Este escutar será o despertar das anestesias quotidianas com que nos isolamos do mundo. Deixemos que as dores dos nossos irmãos habitem os nossos corações. Enfrentemos cada uma das nossas pequenas dores tendo presente os sofrimentos do outro.
É este o sentido profundo do oferecimento das nossas vidas: fazer da prova quotidiana, seja ela o pecado pessoal, a enfermidade, a tentação ou a injustiça, um lugar onde Deus também está. E abraçando a cruz, pequena ou grande, fazer caminho com Jesus, abrindo cada momento do dia ao amor de Deus, à irrupção da sua graça.
Daqui brotará o que há de mais importante para mudar o mundo: conversão. Como podemos queixar-nos constantemente do atual estado da amada criação de Deus sem mudar de vida? Se seguimos numa indiferença ao que acontece, temperada somente pelo queixume, como podemos esperar que o mundo mude?
Querer viver a alegria cristã ignorando a cruz dos irmãos é ambicionar atravessar uma rua sem tocar a estrada. Por muito que se salte, se corra, se brade e se gesticule, não sairemos do mesmo sítio.
Voltemos, com Maria, até Fátima. Olhemos com coragem benevolente a realidade do nosso mundo. Deixemo-lo entrar em cada conta do nosso rosário. Entremos nele com cada uma das jaculatórias. E façamos o caminho de cada dia guiados pela mão dos pequenos pastores da Cova da Iria, oferecendo cada intenção, cada palavra e cada gesto dos nossos dias pela conversão de cada um de nós e do mundo inteiro.
Num mundo que perdeu o coração, assolado pela guerra, sem lideranças e sem rumo, em que os pobres e excluídos são silenciados e no qual Deus não tem lugar, temos de recordar o apelo de Maria, como súplica e confiança. A Mãe recorda-nos que Deus continua ao lado dos que sofrem, e que nós temos uma missão de esperança a desempenhar, um papel do qual não podemos demitir-nos.
Desejar menos da nossa relação com Deus é esperar muito pouco. Esperar menos da nossa fé é não acreditar de todo.
Num mundo que perdeu o coração, assolado pela guerra, sem lideranças e sem rumo, em que os pobres e excluídos são silenciados e no qual Deus não tem lugar, temos de recordar o apelo de Maria, como súplica e confiança. A Mãe recorda-nos que Deus continua ao lado dos que sofrem, e que nós temos uma missão de esperança a desempenhar, um papel do qual não podemos demitir-nos.
Que os sinos repiquem com o Avé de Fátima e nos despertem. Que estes sinos nos arranquem das mãos da letargia e nos levem até à festiva liturgia da criação redimida. A salvação está ainda por viver.
Fotografia: Humberto Magro
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.