Estamos no tempo comum. E, claro, os universitários riem-se à gargalhada deste padre que vive na periferia onde não há nem grandes universidades, nem exames semestrais, nem os stresses de um tempo nada comum que se vive agora, e não percebe nada do que diz. É verdade. Olhando para a vida dos estudantes universitários durante este mês, vemos uma tensão, um empenho e um correr contra o tempo que é fora do comum. Vivem o culminar de uma época de estudo que se decide neste momento final. É certo que os exames trazem algo de particular porque querem examinar coisas particulares, mas isso não quer dizer que não façam parte da vida comum de um estudante. Quem estuda sabe que o ser examinado, mesmo que isso represente um momento mais difícil, ou menos agradável, é fundamental para consolidar o seu trabalho de quem está a aprender. Submeter-se a examinação, ser confrontado e avaliado é indispensável para quem quer construir um futuro. Dito de outra forma, ser examinado faz parte da vida de quem luta contra a mentira, porque um exame quer fazer vir à tona a verdade. Quem é examinado é confrontado com a verdade. E essa é uma realidade que se aplica a estudantes e a todos os que desejam um futuro melhor. A todos os que querem saber.
O exame é essencial ao saber. Os professores ficam a saber o que sabem os alunos que são examinados. Os médicos ficam a saber do que padecem os doentes que são examinados. Os engenheiros ficam a saber o estado de segurança da estrutura que examinam. O polícia de investigação criminal examina as provas para apurar factos menos evidentes e ficar a conhecê-los. Os cristãos ficam a saber da sua vida a fundo quando examinam a sua consciência.
Quem é examinado é confrontado com a verdade. E essa é uma realidade que se aplica a estudantes e a todos os que desejam um futuro melhor. A todos os que querem saber.
Claro que há sempre a tentação de fugir ao exame quando isso me obriga a mudar de estilo de vida para algo que me não é tão agradável. O aluno pode cabular, porque assim o esforço é menor e se cansa menos. O doente pode fugir aos exames porque tem medo do que possa ser diagnosticado. O engenheiro pode fechar os olhos às evidências porque não são assim tão graves e desse modo não se aborrece e tem menos preocupações. O criminoso quer tudo menos que as suas obras sejam examinadas e que assim seja revelada a verdade dos seus atos. O cristão pode não fazer o exame de consciência, mas a sua tibieza pode tornar a sua fé mais morna ou legalista. Nenhuma destas fugas ao exame muda a realidade. Apenas há um fingimento, ou uma negligência, e uma aposta no mundo das aparências. Mas a verdade, mesmo que seja desconhecida, não muda. Nenhum estudante sabe mais por cabular. Nenhum doente fica curado por não fazer o exame. Nenhuma ponte fica segura por o engenheiro fingir que está como nova. Nenhum criminoso deixa de o ser por não se descobrir o seu crime. E nenhum cristão fica mais santo por não se examinar.
Para um cristão um exame deve ser uma alegria, porque é um encontro com a verdade. A Verdade, para os cristãos, tem um nome e um rosto: Jesus. Assim, um exame é algo que me confronta com Jesus, é algo que coloca a minha vida diante do amor de Deus. Um exame é um juízo, porque consiste numa avaliação, mas porque o sumo juiz é Jesus, nada tenho a temer, pois a verdade é que vai contar. O exame é o que me permite amar conscientemente, porque só o real, a verdade, pode ser amada. As ideias, a imaginação, as hipóteses, não são amáveis. Só quando se tornam verdade, incarnadas num presente relacional, podem ser tomadas como coisa amável. E é isso que faz do tempo comum o tempo das maravilhas: é o tempo do exame, o tempo da Verdade incarnada, é o tempo do encontro com Jesus no dia-a-dia.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.