Cada golpe côncavo
da goiva
E do tempo converte
O tronco à forma humana
Da prostração; cada ferida
Confirma a árvore a fazer-se Inteira, madeira elevada
Ao vigor da vida. Pregos,
Cavilhas, grilhões
E outras ferragens
Absorvidos pela carne,
Nela cravados
Fundo, definem a solidez
Do corpo dorido
A transformar-se. Pregos,
Cavilhas, grilhões
acrescentam
À mágoa a segurança
Da presença; à violência
A certeza de existirem Raiz e hastes que são já
Seiva e força. O tempo
E a goiva ferem, sujeitam
A matéria à contingência
Do desbaste, à limitação.
Cada golpe é devolvido
Ao olhar de quem se
aproxima
E não consegue
reconhecer
O rosto, reduzido
Pela dissolução
Ao silêncio
Do esplendor da dádiva.
Nota: A obra que inspira o poema está patente na exposição temporária: “As cores do Sol: a luz de Fátima no mundo contemporâneo.”
Para mais informações: site da exposição
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.