O regresso às aulas traz sempre uma avalanche de decisões e incertezas no novo ano que começa, pelo menos para mim. Em que atividades os devo inscrever? Será que são muitas ou até lhes faz bem? Deviam ter mais tempo para brincar? Será que o mais novo se adapta bem à primária? Como vamos gerir as greves este ano? Vão conseguir cumprir o programa? Será que a escola pública dá de facto a educação que quero aos meus filhos?…
Sei que, mais uma vez, não há uma resposta certa. Todos nós, pais e mães, nos confrontamos com a dúvida de estar a decidir o melhor para eles e com a vontade de querer que o caminho seja seguro. E é aí que me questiono: qual é, então, a prioridade na educação dos meus filhos? O que é o essencial?
Todos nós, pais e mães, nos confrontamos com a dúvida de estar a decidir o melhor para eles e com a vontade de querer que o caminho seja seguro. E é aí que me questiono: qual é, então, a prioridade na educação dos meus filhos? O que é o essencial?
Uns dirão que o português e a matemática são fundamentais para uma base sólida. Outros, que haver diversidade de experiências e atividades é o melhor. Haverá teorias em que o saber explorar e questionar são o principal. Depois de bastantes divagações e algum discernimento, concluo que o essencial, para mim, é ensinar a amar. O amor ao próximo – o investimento nas relações e nas pessoas com quem interagimos – ensina-nos tanto que a aprendizagem é contínua e durante toda a vida.
À primeira vista, ensinar a amar pode parecer uma missão impossível, porque a verdade é que nem nós sabemos amar. Por alguma razão, Jesus Cristo veio mostrar-nos como se fazia e, ainda assim, falhamos consistentemente. Nascemos autocentrados, curvados sobre nós mesmos, e vamos, gradualmente, tentando levantar a cabeça para olhar o outro. Porém, no ato de ensinar também eu aprendo a amar mais e a dar-me mais.
À primeira vista, ensinar a amar pode parecer uma missão impossível, porque a verdade é que nem nós sabemos amar. Por alguma razão, Jesus Cristo veio mostrar-nos como se fazia e, ainda assim, falhamos consistentemente. Nascemos autocentrados, curvados sobre nós mesmos, e vamos, gradualmente, tentando levantar a cabeça para olhar o outro. Porém, no ato de ensinar também eu aprendo a amar mais e a dar-me mais.
Que fique claro, não pretendo que os meus filhos sejam santos. Há até algo um pouco egoísta nesta forma de pensar, porque acredito que é através das (boas) relações que serão mais felizes, que se sentirão mais realizados. Na aprendizagem do amor desenvolvem competências sociais muito importantes para o resto das suas vidas, para se tornarem bons profissionais, bons pais e boas pessoas.
Sendo eu de uma família grande, com uns quantos irmãos com quem tive de partilhar as várias horas do meu dia (e o meu espaço), guardo algumas lições que trago comigo e que acredito terem sido formas que os meus pais encontraram de nos ensinar a amar. Aprendi, por exemplo, a confrontar ideias e discutir relações desde cedo, com discussões (bastante) acesas à mesa. Todos podíamos falar, dizer o que pensávamos e expor os nossos sentimentos. Ensinou-nos a minha Mãe a “dizer sempre a verdade, mas com o coração na boca”. Ou seja, por mais duro que fosse o que tínhamos a dizer, desde que o disséssemos com amor, estaríamos no bom caminho.
Ensinou-nos a minha Mãe a “dizer sempre a verdade, mas com o coração na boca”. Ou seja, por mais duro que fosse o que tínhamos a dizer, desde que o disséssemos com amor, estaríamos no bom caminho.
Também na amizade entre irmãos fomos ensinados a amar mais. A incluir o que se sentia excluído, a partilhar o que queríamos que fosse só nosso, a dar prioridade ao outro que precisava mais do que eu, a ficar no quarto a discutir até nos entendermos, porque dos irmãos e amigos não se desiste até se resolverem os problemas. Quando a frustração era grande, também nos diziam para nos “pormos no lugar do outro, para tentar percebê-lo e melhor entender o que sente”, o que invariavelmente nos fazia sair do nosso lugar de razão e ser tolerantes e compreensivos. Nas tarefas mais pequenas e nas rotinas familiares era-nos exigido que estivéssemos atentos, que cuidássemos uns dos outros, que ninguém ficasse sozinho a trabalhar. E assim fomos educados a amar nos gestos e nas palavras.
Percebo agora que estas aprendizagens tornaram-se uma forma de estar, que fomos aprimorando e fazendo com mais consciência à medida que crescemos. Com o aprofundar da fé e maior conhecimento de Jesus, também o fazemos com intenção e propósito, tentando imitá-Lo na sua forma de amar e de ser para os outros. Para ensinar a amar temos de amar também e ninguém melhor que Ele para nos ensinar a fazê-lo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.