“Todo o poder tende a corromper e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Esta frase proferida por Lord Acton no século XIX mantém plena atualidade e pode ser confirmada por cada português a cada dia de desgoverno do nosso tão querido Portugal.
A apresentação do orçamento do Estado para 2024 foi mais um exercício de enganos, mentiras e abusos, dados de forma branda e benigna, como é próprio de todo o narcisismo e manipulação. Os verbos usados (e repetidos acriticamente pelo mau jornalismo português, que prevalece até na imprensa dita “séria”) não deixam margens para dúvidas: “dar”, “poupar”, “aliviar”, escondendo as verdades tão evidentes: o Estado nunca dá nada que antes não tenha arrecadado das famílias; no exercício da fiscalidade nunca há poupança para as famílias; os supostos alívios são repercutidos sempre por outras cargas, noutros lugares.
A ausência de pensamento crítico por parte de quem cobre estes eventos é absolutamente assustadora, confundindo o relato isento de factos com demissão do papel de mediador, e não cumprindo o mandato deontológico de confrontar, aprofundar, inquirir, cruzar, para assim poder apresentar a verdade jornalística, que é muito mais do que ser altifalante do erro.
Com uma maioria absoluta em desnorte total, afundando o país dia a dia, o jornalismo apresenta-se crescentemente demitido (ou incapaz) do seu papel de quarto poder, inundando o espaço público de ruído, de desnorte e de uma crescente desconfiança. O que se segue é a polarização de visões nos espaços de opinião, raramente cumprindo as matrizes dialéticas próprias de uma democracia, que exige a sinceridade das posições e busca o seu esclarecimento, e não o grito.
Com uma maioria absoluta em desnorte total, afundando o país dia a dia, o jornalismo apresenta-se crescentemente demitido (ou incapaz) do seu papel de quarto poder, inundando o espaço público de ruído, de desnorte e de uma crescente desconfiança.
Para os portugueses que amam o seu país, o confronto diário com o engano faz surgir sentimentos cada vez mais profundos de desconformidade e de impotência, porque não há instância de apelo. As instituições estão minadas, porque a nossa democracia nunca soube criar verdadeiros freios e contrapesos do poder, antes o prefere (sempre o preferiu) paternalista, centralista, absoluto.
Para quem vive estes tempos de Portugal, a perceção que prevalece é a de dois países: um país que deixa o seu destino ser levado por outros, mesmo que o despojem, na ideia (desinformada) que não há mais remédio nem saída; e o país que se desencanta, que percebe a crescente divergência dos seus supostos “pares” do primeiro mundo, de quem se afasta em todos os indicadores, de ano para ano. Este outro país, o que lê os sinais, não fica, sai e procura outra vida, porque aqui não há futuro para o que sonhou.
Nós, os pais que vemos sair os filhos qualificados nesta nova diáspora portuguesa percebemos-lhes a opção e ratificámo-la, não sem a mágoa de não termos conseguido dar-lhes as oportunidades que os nossos pais nos deram a nós, no lugar onde nascemos.
Nós, os pais que vemos sair os filhos qualificados nesta nova diáspora portuguesa percebemos-lhes a opção e ratificámo-la, não sem a mágoa de não termos conseguido dar-lhes as oportunidades que os nossos pais nos deram a nós, no lugar onde nascemos.
Como afirmou o P. António Vieira (a propósito de Santo António de Lisboa), e que o Papa Francisco citou na JMJ Lisboa: “Para nascer Portugal: para morrer, o mundo”. Mantém-se igualmente atual o provérbio português com mais de 500 anos, como parte de um ADN que não nos larga: “Para medrar, casa real ou mar”, que é o mesmo que dizer: “Para realizares os teus sonhos, junta-te ou partido ou vai-te embora”. E assim se cumpre nos nossos dias o fado de Portugal.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.