A crise climática e a destruição dos ecossistemas são, de acordo com o conhecimento científico atual e com a nossa experiência quotidiana, realidades que nos afetam diariamente e com consequências que, não sendo claramente avaliáveis, serão, seguramente, trágicas, inevitáveis, irreversíveis e promotoras de profundas alterações no nosso planeta e em toda a estrutura da vida, tal como a conhecemos.
Em todas as geografias do nosso planeta, sentem-se, de forma evidente, as consequências da estrutural alteração climática que está em curso: temperaturas que não cessam de aumentar; incêndios permanentes na Austrália e na Amazónia; degelo do Ártico; tempestades contínuas no Atlântico; avanços do mar em muitas faixas costeiras; ilhas e arquipélagos em risco de desaparecimento; secas prolongadas promotoras de desertificações progressivas. Em simultâneo, vão sendo destruídos ecossistemas vitais para o equilíbrio biológico: a desflorestação da Amazónia e de muitas outras florestas tropicais; a destruição da diversidade marinha; a extinção, em marcha, de muitas espécies animais; o desaparecimento progressivo das abelhas; a introdução do plástico em todas as cadeias alimentares.
Sabemos tudo isto há muito, muito tempo. Sabemos e fingimos que não sabemos ou pensamos que não acontecerá nada. Mas, todos sabemos que acontecerá qualquer coisa. Sabemos que estão a acontecer essas coisas e até sabemos que as coisas continuarão a acontecer, até tudo acabar mal. Muito mal!
A luta de Greta marca um momento único na história contemporânea: a assunção, pelas novas gerações, dos seus futuros direitos.
Estamos, pois, a participar e a assistir à destruição do nosso planeta, sentados no sofá, a comer as tradicionais pipocas, como se de um filme de ficção científica se tratasse. Infelizmente, não é ficção. Estamos a destruir, irreversivelmente, o planeta que habitamos e que recebemos das gerações que nos antecederam. As gerações que vierem depois das nossas, provavelmente, receberão um planeta muito diferente, para pior.
Chegados aqui e aproximando-nos das linhas vermelhas do não retorno, olhamos à nossa volta, procurando o caminho a seguir e o que vemos? Líderes políticos que, na generalidade, ignorando o que se passa, mais não conseguem do que gerar velhas decisões para problemas novos. Se os líderes não lideram, a liderança passa para os cidadãos.
No dia 20 de Agosto de 2018, Greta Thunberg, então com apenas 15 anos, decidiu não ir à escola e rumou para o parlamento da sua cidade e, aí, anunciou uma greve escolar pelo clima. Deste dia em diante, Greta desenhou e concretizou um plano de luta pela defesa do clima e cumpriu-o até ao presente.
O resto da história é, na generalidade, conhecido. Greta Thunberg tornou-se uma referência planetária, no âmbito da agenda ambiental, em particular no que se refere à questão das alterações climáticas. Em todo o mundo, milhões de jovens têm vindo a mobilizar-se, aderiram a esta luta e, com isso, dinamizaram muitos milhões de adultos que se têm vindo a manifestar em todas as latitudes. A opinião pública tem vindo a estabelecer esta nova agenda política e social e isso tem vindo a condicionar, fortemente, as dinâmicas políticas e económicas, se bem que com fortes resistências que se fazem sentir, com particular destaque para alguns líderes de grandes países, como os Estados Unidos, a China ou o Brasil. No entanto, a agenda ambiental está, de forma cada vez mais evidente, presente nas lideranças da União Europeia, nas preocupações das principais empresas globais e é assunto recorrente das intervenções do Papa Francisco e do Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres.
Nunca, como atualmente, se tentou estabelecer um diálogo social com estas características: um diálogo entre as atuais e as futuras gerações, em que prevalece mais o futuro do que o presente.
Greta Thunberg talvez tenha sido o catalisador que, desencadeando uma mobilização social planetária, deu voz a muitas/os que, ao longo de décadas, lutaram, de forma convicta mas anónima, pelos mesmos princípios e com a mesma causa. No entanto, a luta de Greta marca um momento único na história contemporânea: a assunção, pelas novas gerações, dos seus futuros direitos. Assistimos, pela primeira vez, às gerações mais novas a assumirem a liderança do combate político e a determinarem a respetiva agenda. Uma luta, enquanto cidadãs e cidadãos, que reivindicam receber um planeta em boas condições, por parte das gerações que, atualmente, dele desfruta
Nunca, como atualmente, se tentou estabelecer um diálogo social com estas características: um diálogo entre as atuais e as futuras gerações, em que prevalece mais o futuro do que o presente. Um diálogo capaz de estabelecer o compromisso para um novo contrato social e para uma renovada conduta política: o compromisso das cidadãs e dos cidadãos que não se conformam com o inevitável e que querem ter direito ao futur
Greta Thunberg tomou uma decisão e agiu em coerência. Primeiro, foi apenas ela. Hoje, são milhões que se mobilizam e amanhã serão, certamente, os líderes políticos e económicos a agirem em conformidade com a lei da opinião pública.
A cidadania exercida com convicção é raiz da liberdade e pilar da democracia. É por aqui que devemos ir…
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.