Eleições e Campanhas livres. Umas das grandes conquistas de Abril, que as gerações mais novas não podem reconhecer na sua real dimensão. Mas está longe o tempo em que a confiança e a esperança preenchiam os dias daqueles que viveram os grandes comícios que enchiam ruas, praças e avenidas. Agora temos ruas cheias de manifestações de desagrado, de reivindicação, de exigências, de homens e mulheres sem respostas. E temos campanhas que vivem, na sua imensa maioria, de ataques pessoais, de estratégias analisadas à volta de mesas cheias de gente especializada e fundamentadas em estudos, como se estivessem a analisar a reação do mercado a um novo produto. Temos também uma gritaria em debates, que impede a escuta atenta e critica, de quem procura descobrir alguma luz ao fundo de um túnel. Costuma dizer-se que o povo crente aceita tudo por parte da Igreja, menos questões de dinheiro. Aqui, é caso para dizer, que o povo engole tudo até ao dia em que em vez de “viver” passa a “sobreviver”.
Há poucos dias falava com quem conhece o país real, no qual a pobreza se esconde e o silêncio perturba. Dizia-me que não estamos a perceber a verdadeira situação que o nosso país está a viver. Não me falou da crise na saúde, na educação, na habitação, na justiça. Falou-me da fome, do frio dentro de casa, da violência que já sente, em zonas do interior, despovoadas de segurança. Falou-me dos idosos, dos migrantes, dos desempregados e dos empregados, cujos salários já não conseguem pagar o essencial. E gastamos tempo e dinheiro em ataques pessoais, em contagens de vencidos e vencedores. Gastamos tempo e dinheiro em multidões que acompanham caravanas de campanhas, que repetem slogans gastos de evidências e facilitismos.
Precisamos de homens e mulheres que se batam pela nossa cultura, na essência mais pura. Homens e mulheres que ensinem história aos mais novos, que defendam a nossa língua, insistindo na importância de saber ler os nossos autores, de saber escrever à mão; homens e mulheres que nos ajudem a pensar, a refletir, a argumentar.
Precisamos de homens e mulheres que se gastem pelo bem comum. Que percam o seu bem-estar pelos que não conhecem. Que não se deixem deslumbrar pelo poder e pelo dinheiro, mas que queiram servir a verdadeira causa pública, que será sempre a que coloca em primeiro lugar, os últimos. Precisamos de homens e mulheres que se batam pela nossa cultura, na essência mais pura. Homens e mulheres que ensinem História aos mais novos, que defendam a nossa língua, insistindo na importância de saber ler os nossos autores, de saber escrever à mão; homens e mulheres que nos ajudem a pensar, a refletir, a argumentar.
A identidade de cada um de nós tem a sua história, a sua linguagem, a sua forma de pensar e de estar. As tradições são valiosas, a arte popular também, mas a identidade de um povo precisa de história, de língua materna, de pensamento. O 25 de Abril trouxe um novo acesso à escola e à universidade. Passados 50 anos é cada vez maior o fosso entre o ensino privado e o ensino público, a saúde privada e a saúde pública, a justiça para ricos e a justiça para pobres, as casas inteligentes e a gente sem casa…, mas temos eleições livres. Votar é imperativo.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.