Faz hoje exatamente 80 dias desde que cheguei a Angola, mas a sensação é de quem já cá está há muito mais tempo.
Diria que é normal sentirmo-nos assim quando saímos da nossa zona de conforto e partimos numa aventura nova, porque quando olhamos para trás tudo o que aconteceu, parece não caber nesses 80 dias.
Esta é uma aventura repleta de ação, intriga, suspense, batalhas épicas e romance. A ação de quando um trovão caí perto de ti, a intriga de quem molhou o chão da casa-de-banho, o suspense de uma missa que já vai com 3 horas e não sabes quando vai acabar, a batalha épica que ocorre por vezes na barriga de cada um, e o romance de uma meia que perdeu a sua cara-metade. Mas não é isto que torna esta aventura única.
Gostava de vos falar das pessoas, pessoas especiais. Especiais porquê? Porque eu me predispus a conhecê-las, e quando assim é, é muito fácil ficarmos maravilhados com a singularidade de cada um, deixar-nos surpreender pelas histórias e os gestos que partilham genuinamente. Falo-vos da comunidade cá em casa, de quem nos acompanha nos projetos, das pessoas com quem nos cruzamos, das pessoas que nos acolhem e das pessoas que nos ajudam. Destas pessoas que se dão a conhecer gratuitamente acompanhado por um sorriso e um obrigado desbloqueado por um simples aceno de mão.
Mas em Portugal também há pessoas… claro que sim, e pessoas que também valem a pena conhecer. No entanto, em missão, é diferente. É diferente porque partimos, chegamos e estamos com um foco e propósito bem definido. Vive-se uma simplicidade curiosa, um espírito aventureiro que procura alguma coisa, não no final, mas onde se está. Não sei bem explicar, não é a mesma coisa!
Claro que a cultura, as paisagens e a comida enriquecem a aventura, mas o tesouro, aquilo que o aventureiro tem de procurar em missão, é entregar-se o melhor que conseguir e tentar agarrar na riqueza que são todas estas pessoas.
Faz hoje 80 dias desde que cheguei a Angola e ainda bem que vou ficar aqui mais tempo!
Nicolau Osório
Ganda, 2024