Tio Kakongo

Guilherme Kakongo, carinhosamente tratado por nós como Tio Kakongo, é o elemento mais assíduo nas reuniões do Grupo Comunitário do Alto Catumbela e está determinado a fazer a diferença na sua comunidade.

Guilherme Kakongo, carinhosamente tratado por nós como “Tio”, nasceu a 20 de setembro de 1963, numa aldeia chamada Katusola. Nascido e criado no Alto Catumbela, conhece esta terra como ninguém! Tem sido o elemento mais assíduo nas reuniões do Grupo Comunitário do Alto Catumbela, e está determinado a fazer a diferença na sua comunidade.

Licenciou-se em História e Didática, mas é um líder nato! Durante a sua vida, trabalhou sempre na área da educação, tendo sido responsável pela seção comunal da educação da Babaera, ao longo de 25 anos. Para o Tio Kakongo, “A educação é o alicerce na vida dos Homens e o meio para abrir os horizontes para todas as outras profissões. O futuro de qualquer nação depende da educação.” Aos 18 anos, foi convidado para trabalhar na fábrica Companhia de Celulose e Papel de Angola, mas preferiu a educação e nunca se arrependeu! A sua primeira sala de aula foi debaixo de uma grande mangueira, onde os alunos se aglomeravam a aproveitar a sombra e os ensinamentos do, ainda jovem, professor. Teve oportunidade de lecionar em várias escolas da comuna, exercendo sempre a profissão com gosto e empenho.

Casou-se pela igreja, em 1985 com Mónica Tchissungwe Kakongo, a quem passamos também a tratar por “Tia”, com quem partilha a vida e a profissão, até hoje. Viveram alguns anos no Alto Catumbela, mas em 1993, devido à intensificação da guerra civil, mudaram-se para a Ganda. Com a família mais protegida na cidade, o Tio Kakongo permaneceu a trabalhar na seção comunal da educação, garantindo a continuidade das atividades letivas, apesar da enorme insegurança que se vivia na altura. Hoje, a família conta já com bisnetos, fruto dos 10 filhos do casal, tendo 4 falecido ainda pequenos.

Recentemente, Guilherme Kakongo decidiu reformar-se, em 2021, e agora dedica-se ao trabalho na lavra, à catequese e a outras atividades, bem como ao apoio nos projetos dos Leigos para o Desenvolvimento. Desde o início que representa um grande pilar para nós, pois conhece toda a gente no Alto Catumbela, e toda a história de cada um e do território. Além disso, percebe bem o papel dos LD no terreno, e acredita que o nosso trabalho pode “abrir a mente das pessoas”, vendo nos LD “um bom modelo de vida”.

Não é demais afirmar que o Tio Kakongo é um embaixador dos Leigos para o Desenvolvimento, e vê o potencial enorme que os nossos projetos podem gerar no Alto Catumbela. Faz parte do Grupo Comunitário desde a sua formação, afirmando que este “é a voz da comunidade, é a voz dos sem voz”, e essencial para o desenvolvimento da comunidade, como um todo. “No grupo comunitário todos têm voz, há respeito pelas diferenças de opiniões, há uma participação de todos e que cada contribuição é válida para todos.”

À primeira vista, é um homem sério, reservado e calmo. E é com esta calma que observa as pessoas e todos os acontecimentos à sua volta. Ponderado, inteligente e muito curioso, não perde o desejo de aprender a cada dia, de se questionar a ele próprio e aos outros, para conhecer, cada vez melhor, o mundo que o rodeiam.

Hoje, já com 59 anos, mantém a curiosidade de uma criança, mas ensina com a paciência de um “mais velho”, e facilmente acrescenta bom humor, leveza e simplicidade aos momentos partilhados.

O Tio Kakongo, partilha connosco o entusiasmo de trabalhar para o desenvolvimento da comunidade, conta-nos histórias, ensina algumas palavras em umbundu, mas, acima de tudo, colocou nos nossos corações as chamadas esporádicas, de quem sabe o que é cuidar, a desejar “bom dia, família!”.

Sofia Alves
Ganda, 2021-2022