Será assim o Céu?

Hoje ao iniciar mais uma manhã de Domingo, no descanso da minha cama e ao som de mais uma Eucaristia questiono-me… “que bem fiz eu para merecer que Deus me esteja a dar a oportunidade de viver o Céu na Terra?”

Estou em missão há vários meses e ainda hoje, uma das coisas que mais me fascina, é o tempo em Angola. Desde que aqui cheguei que tenho a sensação de que um minuto não tem 60 segundos como em Portugal, porque aqui uma hora parece durar duas ou três ou até uma noite inteira. O tempo em Angola é talvez o que mais me faz sentir em paz. A sensação de que tenho tempo. Tempo para estar a olhar para o céu sem me lembrar do que tenho para fazer, tempo para passar uma tarde a conversar com alguém sem olhar uma vez que seja para o relógio, tempo para passear ou simplesmente ler um livro e saborear bem cada palavra impressa nas páginas. O tempo aqui é diferente e talvez por isso eu sinta desde que aqui cheguei que numa hora eu posso viver quase uma vida.

Neste meu tempo em missão descobri pequenos momentos da rotina que me fazem muito feliz como é o caso das manhãs de Domingo, onde tenho tempo para saborear a Graça que me é dada. As minhas manhãs de Domingo começam sempre com um despertador muito especial. Aos Domingos acordo sempre com o som da Eucaristia no terreno ao lado de casa. Para alguns viver ao lado do complexo paroquial pode ser bastante incómodo devido ao barulho constante… para mim sempre foi uma bênção. Aos Domingos permito-me viver essa tamanha Graça que o Senhor me dá ao ficar na cama a ouvir os cânticos das Eucaristias.

As Eucaristias em Angola são, muito provavelmente, o que me fez apaixonar primeiro por este país. Só quem vive consegue saber ou perceber o que falo porque nunca nenhuma palavra será capaz de exprimir o que é vivido numa Eucaristia aqui. A sensação de pertença a uma comunidade, atinge o ponto mais alto nas celebrações eucarísticas, onde os cânticos entoados são de arrepiar, as vozes sincronizadas e as danças de ação de graças emocionam e os rostos de quem canta ou dança, sejam mais velhos ou crianças, são do mais simples, puro e bonito que já vi.

Sempre que estou numa Eucaristia aqui em missão pergunto-me muitas vezes se é assim o Céu. Desde miúda que imagino que no Céu tudo é acompanhado pelos cânticos dos anjos e que tudo é tão belo que emociona e arrepia. Hoje ao iniciar mais uma manhã de Domingo, no descanso da minha cama e ao som de mais uma Eucaristia questiono-me… “que bem fiz eu para merecer que Deus me esteja a dar a oportunidade de viver o Céu na Terra?”

Mariana Loureiro
Ganda, 2021-2023