23 Setembro de 2023. A tão desejada partida para missão, que teve de ser adiada várias vezes, chegou. Sobrevoámos o deserto e aterrámos no “meio do mar”. Que alegria. Finalmente em São Tomé e Príncipe.
Os dias que se seguiram após a nossa chegada, foram rápidos e intensos. Em 4 dias recebemos da anterior comunidade de voluntárias em missão toda a informação que nos faltava sobre os projetos, casa, carro, estilo de vida, forma de estar, compras, burocracias, tarefas urgentes, pessoas, lugares a conhecer e mais um “abuso” de coisas (como se diz por aqui). O primeiro impacto foi a sensação de que era demasiada areia para a minha camioneta até porque, num abrir e fechar de olhos, as voluntárias que cá estavam finalizaram missão e regressaram a Portugal… ficámos os 3 sozinhos, um pouco perdidos, o normal no início de algo novo… mas com muita vontade de tornar esta terra, esta ilha, na nossa casa.
Seguimos, com esta alegria de nos sabermos no sítio certo. Com esta certeza de que, mais fácil ou mais difícil, é aqui que temos de estar.
E aos poucos vamos conhecendo as pessoas do bairro da Boa Morte, onde se situa a missão LD. Diz-se bom dia a toda a gente, e a resposta vem quase sempre acompanhada de “Tudo bom?” ou “É como?”. Outras vezes vem acompanhada de expressões em dialético que ainda não sabemos dizer, mas que já vamos sabendo identificar.
Quem nos conhece ou conhece voluntários que já passaram por aqui, chama-nos com o maior sorriso. Quando ainda não nos conhecem, gritam o nome de voluntários que já passaram por cá ou então um simples “Amiga” também chama à atenção. Mas as caras já se vão tornando familiares, as relações vão sendo construídas levemente e a alegria de ser missionária vai crescendo.
E cresce porque nos vamos envolvendo, conhecendo a cultura e adaptando à forma de estar, descontraída, à vontade. Nem sempre é fácil, é uma terra com poucas regras, é difícil estar em controlo da agenda, tudo pode mudar de um momento para o outro. A única coisa de que temos a certeza é que, eventualmente, a luz vai falhar, mas temos sempre velas ou lanternas à mão para iluminar as noites mais escuras. Mas é parte da vivência e apesar de, por vezes, os nossos planos saírem furados, o primeiro instinto é rir. É deixar que a imprevisibilidade nos encha de vida.
Há um ano, não estava perto de sonhar que esta seria a história que eu estaria a contar… Mas ainda bem que é porque não sei se haverá alegria tão grande como esta de ser missionária.
Beatriz Bernardo
Missão São Tomé e Príncipe, 2023-2024