No dia 10 de janeiro, ainda antes das 7 horas da manhã, já o primeiro caixote de lixo estava colocado na Escola Básica da Boa Morte, em S. Tomé e Príncipe. Aos poucos vêem-se as crianças entrar e a reparar imediatamente no caixote ali deixado. Uns mais curiosos que outros chegam-se ao caixote e atrevem-se a espreitar dentro.
Às 7h30 é hora de cantar o hino, e assim, todas as crianças, no seu uniforme azul e de mochila às costas, estão no pátio principal da Escola. A Professora Sara, imediatamente a seguir ao entoar do hino, é quem toma a palavra e vai direta ao assunto: explicar a intenção do caixote que todos viram ao chegar à escola – recolher essencialmente lixos como latas, pacotes de bolachas, papéis de rebuçado, e não folhas ou caroços de caroceiro. Foi dado especial destaque à confiança depositada naquelas crianças e como esta ferramenta poderá ser uma ajuda para melhor cuidarem daquele espaço, e futuramente das ruas do seu Bairro. O impacto que poderá ter no seu bem-estar e bem-viver. Para terminar, a Professora acrescenta “queremos ser como os tolos que sabem como se faz mas não se dão ao trabalho?”. Todos pareceram dispostos a “darem-se” ao trabalho!
Esta é uma iniciativa que surge no âmbito do trabalho ao qual o Grupo Comunitário da Boa Morte (GCBM) se tem dedicado, e que tem um objetivo claro: “Criar e implementar um modelo comunitário, autónomo e sustentável, de recolha de resíduos sólidos urbanos no Bairro da Boa Morte”.
Constrangimentos parecem não faltar. Mas a boa vontade, esforço e dedicação também não. E assim, vai-se avançando aos poucos. A viabilidade do modelo a testar depende da mudança de atitude individual de cada cidadão e não apenas da preocupação e esforços em solucionar o problema demonstrados pelo GCBM. E têm verificado o esperado, a exigência e dedicação necessárias para a concretização de uma mudança de comportamento são, de facto, desafiantes. E é exactamente nesta concretização que vão ganhando força.
Não havendo, para já, terrenos para a construção de casas do lixo, surgiu a ideia, de caixotes pequenos de lixo. Embora não substituam as já referidas casas do lixo, poderão servir de ferramenta de sensibilização para a existência e importância da recolha de resíduos na Boa Morte.
E assim, neste mesmo dia, o GCBM procurou motivar as crianças a procurarem uma pedra para jogar à macaca (em vez de um vidro), a procurarem um trapo para jogarem ao lencinho (em vez de um pacote de bolachas) e a procurarem uma árvore, mocho (1) ou quitanda (2) para “se salvarem” quando jogam às escondidas (em vez de uma lata pousada no chão). Afinal, o Bairro será delas, e o descanso que vai ser correrem descalços, ainda com menos preocupações.
Para além desta iniciativa o GCBM tem desenvolvido outras atividades, tais como ações de sensibilização e ações de limpeza, todas com vista à promoção de hábitos mais amigos do ambiente.
(1) Mocho: banco
(2) Quitanda = pequena loja (muitas vezes apenas um balcão numa janela) onde é possível comprar mercearias e legumes.
