Por vezes, trabalhar num país como Moçambique faz-me sentir como se estivesse a tentar esvaziar um oceano com um conta-gotas. Requer paciência, entre muitas outras coisas. Hoje, ainda sinto muitas vezes o mesmo. Aprendi a conviver com este sentimento porque sei que não vou ser eu a mudar o mundo. Posso, no entanto, mudar o mundo para uma pessoa. E esta paciência, é tanto mais essencial quanto opera em nós uma liberdade indispensável.
Recorrentemente, julgamos querer o bem dos outros – ou o nosso próprio bem –, mas esse desejo mistura-se muitas vezes com uma procura dissimulada de nós próprios e da nossa vontade, um apego às nossas concepções pessoais, estreitas e limitadas, que prezamos a ponto de pretender impô-las aos outros. Devemos procurar a todo custo libertar-nos dessa estreiteza de coração e entendimento para que se realize não o bem que imaginamos ou concebemos, mas o bem correspondente aos desígnios – tão mais amplos – de Deus.
No dia-a-dia, as pessoas procuram a nossa casa e obrigam-me a parar na rua, em grande parte das vezes não só para cumprimentar. Uma pequena atenção cativa, um sorriso entusiasma, uma palavra anima. Com uma carta de recomendação (muito empenho e dedicação), o jovem Maulana é hoje técnico da Sociedade Algodoeira do Niassa JFS-SAN. O meu amigo Mussagy concluiu o secundário, pediu-me conselho sobre o seu futuro e prossegue hoje os seus estudos para ser professor. O Martinho é hoje segurança na sequência de uma pequena conversa com as irmãs de Santa Maria Postel.
No meu trabalho, com pequenas lições que, pouco a pouco, melhoram um homem ou uma mulher, um rapaz ou uma rapariga, procuro “mudar o mundo” para as 8 aldeias e mais de 300 crianças que frequentam as Escolinhas Comunitárias do Niassa. Mas na verdade, se uma única pessoa vir o amor de Jesus em mim, cada minuto terá valido a pena. Na realidade, toda a minha vida valerá a pena. E é tão simples. Não me interpretem mal, não é fácil. Mas é simples na medida em que todos nós fomos em última análise criados para fazer a mesma coisa. Pode não parecer a mesma coisa. Pode acontecer em solo estrangeiro, no nosso jardim, num escritório ou numa sala de espera, mas acredito que todos fomos criados para mudar o mundo para alguém. Para servir alguém. Para amar alguém da maneira como Jesus começou por nos amar.
Hoje fico feliz com pequenas mudanças. Com o tempo, quem sabe, as pequenas mudanças vão-se acumulando. Por vezes, até transformam cidades e nações e, sim, o mundo!
Luís Santiago
Cuamba, 2017-2018