Ao longo de um ano, na formação dos Leigos para o Desenvolvimento, e mais especificamente nos exercícios espirituais de 7 dias [1], fui discernindo e maturando este sim à missão de ser leiga missionária. Foi um caminho com muitos altos e baixos, e por vezes demorado, mas que me fez muito sentido e ajudou a tomar esta decisão de forma mais consciente.
Mas, perguntam-me algumas vezes, e aqueles que deixaste longe, aqueles com quem trabalhas, aqueles que vais conhecendo e estando no dia-a-dia? Eu, carinhosamente, decidi-lhes chamar de “os outros”.
Todos os que me vão ouvindo falar, sabem que digo sempre, que tenho muita sorte em ter uma família e amigos que, além de me apoiarem, percebem e entendem esta minha opção e tudo o que advêm dela. São eles, que, mesmo sem terem dito um sim diretamente, acabam, por todos os dias, dizer que sim à minha missão. Quando as saudades apertam, quando os dias importantes passam, quando a distância aumenta, quando não podem estar sempre comigo, em todos esses momentos eles estão a dizer sim, mesmo sem se aperceberem.
E depois surgem mais “outros”, a família LD, à qual agora pertenço, no papel da sede, da direção, dos formadores, dos anciãos [2], dos voluntários e suas famílias. Uns que estão mais perto e uns mais distantes, mas que à sua maneira se vão fazendo presentes, vão rezando por nós, vão mandando miminhos pelo correio, vão-nos visitando e dando conselhos, às vezes sem nos conhecerem pessoalmente. São estes outros que fazem sentido à vivência diária da lei da caridade e do amor.
Em missão aparecem “outros”, a comunidade local, os que fazem parte da paróquia, os que pertencem aos nossos projetos e todos aqueles que se vão tornando nossos amigos, com quem vamos partilhando o nosso dia-a-dia, o nosso quotidiano e acabam, por aos poucos, serem eles próprios, missão connosco. No testemunho com que encaram as dificuldades da vida, com a alegria que vão aproveitando todo o conhecimento que lhes vamos transmitindo, com a apropriação que acabam por ter dos nossos projetos, que acabam por ser deles, ou apenas por uma palavra ou um sorriso amigo que vão tendo connosco.
E assim, a nossa missão, primeiramente vivida apenas por nós, passa a ser, também, destes “outros”, e eles vão preenchendo o nosso coração de caridade, disponibilidade, companheirismo e perseverança. São estes “outros”, aqueles que já eram nossos e os que agora, também, se tornam nossos, que me vão ajudando a confirmar no dia-a-dia, o porquê de ter aceitado este desafio de ser missionária no meu país. São estes “outros” que com pequenos gestos, estão, constantemente, a mostrar-me o quanto eu tenho de agradecer por viver rodeada de tanto amor, alegria e perdão.
Ana Teresa Oliveira
Caparica-Pragal, 2018-2019
[1] Retiro Espiritual de espiritualidade inaciana
[2] Antigos Missionários LD