Bairro de S. Marçal, ilha de S. Tomé, janeiro de 1978. Aqui, num dos bairros mais populosos da Cidade de S. Tomé, nasceu Juvêncio, como peixe fora de água. Tinha 5 anos quando a família deixou a capital para regressar à vila piscatória de Porto Alegre, no extremo sul da ilha, onde os pais tinham as suas redes e raízes.
Em Porto Alegre, Juvêncio conclui a 2ª classe, mas, para poder continuar a escola, tem de voltar a viver na cidade, a 70 km. Regressa à capital com 8 anos: “Eu fiquei lá, a princípio, sozinho. Depois, foi também a minha irmã mais velha [10 anos]. Ficámos lá os dois, sozinhos.” Ainda a estudar, Juvêncio começa a trabalhar aos 11 anos, para “desenrascar, porque os meus pais não tinham dinheiro para me apoiar lá na cidade”. Trabalhava durante as manhãs como pedreiro ou camponês, pois as aulas só lhe ocupavam as tardes. Conciliou trabalho e escola até concluir a 8ª classe. Mas o ano seguinte era mais exigente: aulas de manhã, material escolar caro e disciplinas a exigir mais horas de estudo. Juvêncio não tinha como continuar os estudos e vê-se forçado a voltar, triste, para Porto Alegre.
Passa então a trabalhar com o pai: “Eu acompanhava o meu pai na canoa. Eu não sabia nada de pesca, mas aos poucos fui aprendendo, até aos 17 anos. Depois disso, já podia ir sozinho.” Hoje, com 39 anos, Juvêncio ainda trabalha na pesca, apesar de acumular esta atividade principal com outras paralelas, de caráter comunitário. Desde cedo que o sonho de “ver a comunidade de Porto Alegre mais avançada” o levou a envolver-se ativamente no trabalho associativo e comunitário. Em 2005, faz vários esforços para “restaurar” a moribunda Associação de Pescadores, sem êxito. Mas Juvêncio não desiste de lutar e, anos mais tarde, haveria de encontrar nos LD apoio e ânimo para levar este projeto a bom porto.
Foi no âmbito do seu trabalho na Associação de Moradores de Porto Alegre que, em 2011, teve o primeiro contacto com os LD. Quando chegaram a Porto Alegre, “quiseram saber como estava a comunidade, que projetos podiam apoiar”. Em 2012, “organizámos a primeira atividade na comunidade”. Depois, na reunião de avaliação, “os Leigos [para o Desenvolvimento] fizeram-nos ver que trabalhar em grupo vale muito mais do que trabalhar sozinho”. Desde aí, Juvêncio mantém relações muito próximas com os LD, que vieram trazer um novo impulso e alento ao trabalho da Associação de Moradores e apoiar os seus esforços, até então infrutíferos, na “restauração” da Associação de Pescadores, agora uma associação de vento em popa.
“Desde a altura em que eu vi que vale a pena a trabalhar na comunidade, comecei a investir muito na comunidade”. Hoje, Juvêncio colabora na Rádio Comunitária e no Centro de Recursos Educativos e Formativos de Porto Alegre, onde é monitor de informática; trabalha na Associação dos Pescadores; é secretário do Grupo Comunitário, que congrega várias instituições e associações locais. Além disto e da pesca, ainda trabalha na Câmara como fiscal de uma associação que faz recolha, tratamento e compostagem de resíduos. O seu trabalho em prol da comunidade, potenciado pelo apoio dos LD, ecoa o Evangelho: “lançaram as redes e a pesca foi abundante”.
“Hoje, já vemos uma comunidade mais crescida!”, diz Juvêncio com orgulho e com palavras que aportam num sorriso… Alegre!