Desde 2005 que os Leigos para o Desenvolvimento (LD) estão no Bairro da Graça, em Benguela, Angola. Foram 14 anos, muitos projetos criados, desenvolvidos e agora a um passo de serem todos entregues. Mas mais que os projetos, foram 14 anos de presença dos LD na Graça, de caminho junto de alguns grupos da paróquia, de amizades criadas e dos simples “bom dia!” trocados com quem se cruza na rua.
Nos últimos tempos, entre a pressão e o stress que a entrega de um projeto envolve, entre as ansiedades, os “E se’s…?” e os “Será que’s?” tenho-me apercebido de uma coisa. Os Leigos vão sair da Graça. Não. A ONGD Leigos para o Desenvolvimento vai deixar de trabalhar na Graça, assim é que é! Porque os Leigos, esses, vão ficar para sempre. Não me refiro, claro, aos voluntários que vieram ano após ano para Graça depois da formação de um ano que tiveram em Portugal. Refiro-me aos Leigos da Graça, os “Leigos Angolanos” como tão orgulhosamente se intitulam.
Estes jovens, homens e mulheres que desde há muitos anos convivem, trabalham, vivem e respiram toda a essência disto que é ser LD, que foram aprofundando e aperfeiçoando a visão de trabalho em desenvolvimento. Nunca, por exemplo, os LD enviaram para a Graça um voluntário com tanto conhecimento sobre Grupo Comunitário como o Leigo Raúl, que faz parte do grupo desde a primeira reunião. Dificilmente, algum voluntário dos LD chegou à Graça a conhecer, formar e liderar tão bem os monitores do Espaço Criança como o Leigo Chiquito, coordenador pedagógico do projeto, o faz. Nunca, os LD tiveram no terreno tantos Leigos como têm neste momento na Graça! É através de Leigos como o João Central, o Zecas ou a Josefa (e muitos outros que nunca caberiam nos caracteres que tenho disponíveis para este texto) que a Graça vai continuar a receber testemunho de simplicidade, entrega e disponibilidade para a comunidade e preocupação com os problemas e necessidades desta. E faz todo o sentido que seja com estes Leigos, porque tudo isto é deles, sempre foi. E agora cabe-lhes a eles, seja nos projetos ou não, a missão de influenciarem, capacitarem e formarem outros Leigos. E isto, esta continuidade…é desenvolvimento!
Quanto a mim, após quase dois anos a conviver, trabalhar, viver e respirar toda a essência disto que é ser da Graça, não sei muito sobre o que vou fazer no futuro e saio apenas com a certeza que vou levar esta Graça e o que aqui aprendi para onde for. Para sempre.
Marta Horta
Benguela, 2017-2019