A leveza vivida em missão muda o olhar do coração para sempre, atrevo-me a dizer.
Aqui, vivemos dia a dia, reflexo da comunidade a quem servimos; e que alegria é viver um dia de cada vez… O sabor de cada pôr-do-sol e céu estrelado, de cada encontro na rua com as crianças, de cada jantar à luz das velas (quando falha a eletricidade), este sabor dos pequenos momentos, de tão vívidos, nunca irei esquecer, é impossível perderem-se na memória.
Para uma pessoa, que nasceu com este pôr-do-sol inacreditável todos os dias a pousar nas suas costas, não para e não se admira pois, sempre fora a sua realidade, por mais bonita ou feia que possa parecer. Do mesmo modo, eu que nasci a observar quase todos os dias o Rio Tejo, na cidade, já pouco me admirava com a sua tamanha imensidão.
Começo a perceber, ao longo destes meses que, isto sim é a beleza de viver e de me maravilhar a cada dia que passa – pegar nos meus olhos, na minha sensibilidade, no meu
coração, na minha atenção, admirar-me com a beleza do desconhecido ou conhecido e dar uma cotovelada à pessoa que está ao meu lado: “Olha lá, já olhaste para o céu hoje?”
Em missão, ao saborear cada dia intensamente, repleto de acontecimentos ordinais, aos poucos e poucos treinamos o nosso olhar e encontramos o extraordinário.
Margarida Barbosa
Ganda, 2022-2023