O sabão mudou a minha vida

Foi nesta província do interior que nasceu Catarina, filha de uma enfermeira e de um camponês. Aí passou a sua infância, num dos bairros periféricos da capital de província: “Era muito diferente, gostava muito de viver lá…”, confessa Caty

Cuando-Cubando, sudeste de Angola, 1986. Foi nesta província do interior que nasceu Catarina, filha de uma enfermeira e de um camponês. Aí passou a sua infância, num dos bairros periféricos da capital de província: “Era muito diferente, gostava muito de viver lá…”, confessa Caty, com candura no sorriso e no olhar. Foi lá que fez os seus estudos, completando a 12ª classe na área de Ciências Económicas e Jurídicas. “Gostava muito de estudar, mas não continuei os estudos porque não conseguiria pagar as propinas.”

Hoje, com 31 anos, Caty é uma mamã angolana de olhar meigo e sorriso doce, que vive bem longe da sua terra-natal e bem perto do Bairro da Graça, em Benguela, com o marido e 4 filhos. Caty tem nos braços o mais novo, recém-nascido ainda, que amamenta enquanto recorda como a sua vida mudou quando o seu caminho se cruzou, em 2015, com os Leigos para o Desenvolvimento: “Fui à igreja e assistia à missa quando os Leigos [para o Desenvolvimento] anunciaram um curso que também tinha culinária… E então eu fui. […]. Queria saber mais coisas na vida…”

Caty conheceu os LD no Centro Juvenil da Graça, quando frequentou o curso de formação no âmbito do Projeto Epongoloko Lyukãy (Mudança da Mulher), que tem como principal objetivo o empoderamento social e económico das mulheres do Bairro da Graça. “A formação foi um pouco difícil. Há coisas que nem consegui fazer… por exemplo, costura. Mas gostei muito do sabão!” – recorda Caty, com um sorriso que lhe ilumina todo o rosto. “A formação também tinha bordados, decoração, artesanato… E gostei muito do estágio; foi numa creche, nos cuidados da infância.”

Na sequência da formação, juntamente com outras mamãs, Caty aprendeu a fazer sabão. “Fomos para Luanda, quatro senhoras mais a LD, aprender a fazer sabão. Foi um dia só. Mas depois, quando chegámos [a Benguela], não conseguíamos fazer o sabão; cada vez que fazíamos, estragava aquilo… e tivemos de pedir nova receita. Nunca tive vontade de desistir e, até agora, as coisas estão indo bem. Depois ensinámos outras senhoras que não tinham ido.”

Em resultado do projecto Epongoloko Lyukãy, Caty faz hoje parte do grupo de mamãs empreendedoras que desenvolve o seu pequeno negócio de fabrico e venda de sabão. Tornou-se produtora e vendedora de sabão. “A minha vida mudou mesmo. O sabão mudou a minha vida! Hoje produzimos, nós próprias, e vendemos. […] Este trabalho que eu tenho ajuda a minha família. Temos um salário; embora pouco, é uma ajuda.” Caty gosta do que faz. Confessa que só deixaria o negócio do sabão se voltasse para a sua província. Enquanto viver em Benguela, vai continuar no negócio do sabão, “porque é NOSSO.”

Sobre a sua relação com os LD, Caty diz que já não é apenas uma relação de trabalho, mas também de amizade: “Tive muita sorte de ter conhecido os Leigos [para o Desenvolvimento], aproveitámos muita coisa… E eles também aproveitaram muita coisa de nós!”, remata com visível autoestima e orgulho.

As duas filhas mais velhas entram na conversa para falar sobre o trabalho da mãe. Gostam que Caty esteja no negócio do sabão, porque o dinheiro que recebe desse trabalho “vai-nos ajudar na escola, ajuda para comprar a nossa roupa e acabar a nossa casa.”

Na vida de Caty, a receita do sabão é muito mais do que a espuma dos dias: é uma receita de autonomia e empoderamento, uma receita de vida que esta mamã promete, um dia, transmitir às filhas… entre muitas bolas de sabão!

[1] Mudança da Mulher