Estou a chegar ao fim desta linda história que é o tempo em missão.
Sem dúvida foi um tempo exigente e desafiante e continua a sê-lo. Nem sempre é fácil enfrentar os desafios que Deus tem para nós, mas é isso mesmo que nos faz crescer.
O Monte da Caparica, na missão da Caparica-Pragal, tem-me ensinado muito. As pessoas, o ambiente, a fé…
No outro dia li uma frase que me ficou bastante gravada na memória: “Embora tenha o universo nada posso afirmar ter, pois o desconhecido não posso conhecer se me agarrar ao que já conheço” (do livro O Cavaleiro da Armadura Enferrujada)
E hoje isto faz-me tanto sentido. É quando largamos os nossos hábitos, os julgamentos, avaliações, tudo o que já conhecemos e damos por certo, que conseguimos entrar no desconhecido e aprender com ele.
Não é fácil largar tudo e partir, mas é quando verdadeiramente nos desprendemos que conseguimos viver.
Largar e ir.
Um ano passa a correr e nem deu tempo de me aperceber do tempo a passar por mim. Mas o que levo daqui é sem dúvida a energia maravilhosa destas pessoas.
O Monte da Caparica não é só um bairro social é também casa. E em casa temos de tudo, conquistas, alegrias, tristezas, desilusões, mas sempre colo, aquele quentinho no coração como o pôr do sol no final de tarde. É este colo que a comunidade não se cansa de me dar. É tão bonito perceber que apesar de não ser parte destas pessoas, elas tratam-me como se fosse, como uma grande família.
Gosto tanto do modo como algumas pessoas levam a vida aqui: o mundo pode estar a acabar, podemos estar a passar grandes dificuldades, mas é esse momento, que é o melhor momento para festejar e celebrar a vida. Por mais que a vida não esteja a correr bem, saem de casa para estar com a comunidade.
Festa nunca falta!
Algo corre mal “então bora” distrair e celebrar a vida que Deus nos deu. Beber uma cerveja, ouvir uma música, dançar e fazer boas conversas com quem nos rodeia.
É maravilhoso ver a vida assim. Não perder tempo a chorar sobre o leite derramado, mas sim festejar os dons que Deus nos dá, a casa, os amigos, a família, o alimento, a palavra e sobretudo a vida. Crescer é duro mas no fim a dor passa e tudo se torna mais bonito e forte!
E aqui está o meu desconhecido que agora se tornou conhecido. Qual será o próximo?
Isabel Vale
Caparica-Pragal, 2021-2022