Montanha russa de sentimentos

Passado um mês e meio de chegar a São Tomé o misto de sentimentos não podia ser maior. Ainda no avião a expectativa era enorme. Como será o país? O clima? As pessoas? A cultura? Os hábitos? As tradições?

Passado um mês e meio de chegar a São Tomé o misto de sentimentos não podia ser maior. Ainda no avião a expectativa era enorme. Como será o país? O clima? As pessoas? A cultura? Os hábitos? As tradições? Tudo era novo e tão diferente do que estava habituado. Afinal, era a primeira vez em África.

E os projetos? Será que terei capacidade para fazer um bom trabalho nos projetos onde estou inserido? Será que os projetos estão a responder às necessidades? Tantas perguntas, tantas dúvidas, tantos receios e tão poucas respostas.

A única certeza que tinha até então é que não estaria sozinho, teria sempre a minha comunidade. “Mas e a comunidade… Será que me vou dar bem com a comunidade?”

Bem, tinha uma certeza. Sozinho nunca estaria, teria sempre Deus do meu lado, Ele estaria sempre lá, para os bons e maus momentos. “Confia, que tudo vai correr bem.”.

Chegámos a São Tomé e fomos recebidos com um amor e carinho enorme pela comunidade que cá estava, fizeram de tudo para nos fazer sentir bem, é tão bom e reconfortante sermos bem recebidos, sentimo-nos em casa, sentimo-nos parte de um todo.
Mas a primeira impressão é dura, o contacto com a realidade que encontramos não é fácil, é tudo tão diferente do que estamos habituados. Falta muita coisa, falta tanta coisa… Tanta coisa que para nós são dados adquiridos, coisas que nunca pensámos bem como é viver sem. E há pessoas que vivem assim, há muitas pessoas que vivem assim. A realidade torna-se cruel, choca-nos. Ver essa realidade com os nossos próprios olhos fere-nos a alma, revolta-nos o espírito. Como é possível?

É possível. É a realidade que encontramos, mas pode não ser a realidade que deixamos. A cada dia trabalhamos para construir um futuro melhor, através dos nossos projetos, através do nosso trabalho na comunidade, com a comunidade, para a comunidade, acredito que tudo pode mudar, que esta terra e esta gente com um potencial incrível podem ser cada vez melhores, que os nossos projetos farão a diferença.

E é isso que sinto, quando ando pelas ruas de Porto Alegre, Vila Malanza ou Ponta Baleia. As pessoas valorizam o nosso trabalho e ficam gratas pela relação de proximidade que temos com elas. Acreditam em nós, confiam em nós. Querem-nos do seu lado para evoluir e serem melhores. Dizem-nos “O vosso trabalho aqui é muito importante, estamos muito contentes por estarem cá”, e é tão bom, tão gratificante, mas mais importante é saber que estamos a fazer a diferença na vida de alguém.

Bruno Martins
S. Tomé e Príncipe, 2018-2019