Há pessoas que passam por nós e nos marcam pela grandiosidade dos seus gestos. Há outras que nos marcam profundamente pela beleza do mais pequeno e do mais simples. Quando estou com a Maria de Roque sinto isso mesmo… Sinto-me a voltar às origens de tudo e a reencontrar uma alegria e pureza que tantas vezes parece inexistente na azáfama do meu dia-a-dia.
Chama-se Maria da Conceição Furtado Nunes, as pessoas que a conhecem da rua, de cesto na cabeça, chamam-lhe Maria dos Pastéis, mas para nós e para todos aqueles que lhe são mais próximos é a Maria de Roque – Roque porque é o nome do seu marido e foi a forma de a distinguir de todas as outras Marias que viviam lá na terra, como ela tantas vezes gosta de nos explicar.
A Maria nasceu numa viagem entre São Tomé e Cabo Verde e tem o dom de nos conseguir fazer a todos viajar de volta às suas origens. A Maria dedica-se à venda de pastéis e doces tradicionais cabo-verdianos, trazendo assim um pouco de vida e da cultura cabo-verdiana a todos aqueles que se cruzam com ela na rua.
Para isso, levanta-se de madrugada para começar a fazer a massa dos pastéis, “pois no dia é que fica boa”, faz os pastéis, frita tudo, toma o pequeno-almoço e sai para a rua para vender tudo aquilo que carrega consigo. De cesto na cabeça vai atravessando as ruas de diferentes zonas do concelho de Almada, trazendo a sua marca e cunho pessoal à imagem do concelho.
A Maria aprendeu esta “arte do cozinhar” com a tia que a criou e lhe ensinou tudo. Foi também com a tia que começou a ganhar este “gostinho” pelo negócio pois ela tinha uma “taberna” onde vendia os seus cozinhados. A Maria diz que em Cabo-Verde vendia todos os dias, mas há quase 40 anos, quando chegou a Portugal, colocou esse amor que tem pela cozinha um pouco de lado, dedicando-se a outros ofícios. Foi há 10 anos, quando se mudou para o Bairro das Casadas, que começou a sair à rua com as coisas para vender, de forma a se dar a conhecer aos outros.
Mas aquilo que a Maria é vai muito para além dos belíssimos pastéis de milho que tão bem sabe fazer. A Maria está, acima de tudo, disponível para os outros e prova disso é a sua presença constante no Grupo da Sagrada Família e a forma como, semanalmente, leva a comunhão aos doentes. Apesar de tudo isto, aquilo que mais gosto nela e que realmente é a sua característica vital é o seu sorriso. Deus presenteou a Maria com o mais belo dos sorrisos e ela como forma de agradecer, nunca mais o escondeu, trazendo um pouco de alegria à vida de todos os que a vão partilhando com ela.
João Silva
Caparica-Pragal, 2022-2023