Jamais me esquecerei desta frase

São Tomé, bairro da Madre de Deus. Aqui nasceu, cresceu e reside a Bráulia: «O meu caminho cruzou-se com o dos Leigos para o Desenvolvimento (LD) há tanto tempo que já não me lembro.»

São Tomé, bairro da Madre de Deus. Aqui nasceu, cresceu e reside a Bráulia: «O meu caminho cruzou-se com o dos Leigos para o Desenvolvimento (LD) há tanto tempo que já não me lembro.» Em 1989, a primeira comunidade LD instalou-se no bairro e os LD tornaram-se seus vizinhos: «Acabei por fazer parte das pessoas que tinham uma relação bastante próxima com os leigos.» E foi esta proximidade duradoura, de vizinhança e de relação, que haveria de ser transformadora na sua vida…

… a começar pela asma. Hoje, Bráulia ainda recorda um episódio daqueles tempos: «O engraçado é que até a asma que me incomodou a vida toda foi curada com uma carteira de comprimidos que o Hilário me deu, tinha eu qualquer coisa como 17 anos. Nunca mais tive asma!» E, com a presença dos LD no bairro, nunca mais a vida dos jovens foi a mesma: «Era uma vivência com muito intercâmbio e confiança, pois os LD abriam as portas e eu me sentia em casa. Éramos como irmãos, pois fazíamos muitas coisas juntos; não somente eu, mas também outros jovens locais.»

Dos primeiros tempos de convivência com os LD, Bráulia recorda, sobretudo, os campos de férias que os LD organizavam noutros pontos da ilha, durante as férias escolares, e nos quais colaborou como animadora: «Ia com eles onde quer que fosse e isto permitiu-me conhecer melhor o meu próprio país. Passávamos 8 dias nas roças, desenvolvendo ATL com crianças e jovens.»

Entretanto, com o apoio dos LD, foi criado o IDF (Instituto Diocesano de Formação), numa altura em que a Bráulia, tendo concluído o 9.º ano, frequentava um curso profissional. Instigada pela irmã e pelos LD, fez as provas de acesso ao IDF: «Fui selecionada e concluí o 12º no IDF, em 1997, como uma das melhores alunas.» Começou então a ganhar forma o sonho de tirar um curso superior, mas a sua família não tinha posses para suportar os estudos, e o tempo foi passando…

Aos 27 anos, reacendeu o sonho. Faz as provas de ingresso e consegue vaga na UTL/ISCSP (em Portugal). E agora?, pensa Bráulia, «tenho vaga mas não tenho como viajar.» Depois de várias tentativas frustradas para conseguir o visto, a ajuda do Hilário foi de novo providencial: consegue-lhe uma bolsa de estudo da Fundação BCP, «mas o bilhete de passagem continuou sendo um problema.» A ajuda para o bilhete veio de uma antiga LD de S. Tomé, e a Bráulia voou para Portugal: «Quando fui falar com a Madalena para ver como ia pagar o valor do bilhete, esta respondeu-me: ‘tira o curso e já é para mim o pagamento’. Jamais me esquecerei desta frase!» Depois de várias mudanças de residência, de interrupções por problemas de integração e do nascimento de dois filhos durante o curso, a licenciatura em Sociologia tornou-se realidade, mas também ferramenta de desenvolvimento para o seu país. Bráulia regressa a S. Tomé e ao bairro.

«Se hoje sou licenciada e com um bom emprego, foi graças à ajuda que tive dos Leigos para o Desenvolvimento. Sou chefe da Área Social da Câmara Distrital de Água Grande, dou aulas de História ao 9º ano, aulas de Integração Social na Escola Profissional de Água Grande e coordeno a mesma escola. E não abro mão das minhas atividades não profissionais. O mais gratificante de tudo isto é o reconhecimento que sinto das pessoas pelo papel que tenho tido na sociedade santomense.»