JACA, JACA, JACA…

Estar em missão também tem muitas coisas que se colam e agarram a nós… algumas desafiantes, como o chegar às pessoas, o comprometimento nas atividades, e outras muito boas, como os sorrisos, os olhares curiosos.

São Tomé é um país fértil, e com isto quero dizer que é capaz de produzir dezenas de frutas diferentes, e algumas delas mais do que uma vez ao ano! No entanto, esta fruta boa, de nome jaca, parece ser a delícia de todos os que por aqui vivem. É só ver miúdos e graúdos a comer jaca na rua, como se este fruto de um doce se tratasse. Qualquer machim (1) consegue cortar uma jaca sem problema, e aquela espécie de cola que a agarra, isso não constitui obstáculo, é só saber como cortar e “já”, come-se jaca até encher a barriga e esta terminar, e estamos a falar de um fruto bem grande!

Partilho convosco a analogia entre esta fruta e a realidade de estar a viver em missão! A casca da jaca é a nossa capa quando estamos ainda fechados, ainda na árvore, que é a nossa zona de conforto. Quando saímos de cima da “nossa árvore”, a nossa casca que nos protege, é deixada para trás. Já não nos serve, para podermos avançar, temos de a tirar, correndo o risco de se não o fizermos de sermos só uma fruta pesada e sem qualquer interesse. Ao sairmos de nós mesmos, conseguimos caminhar mais um pouco…e agora com a jaca descascada aparece uma cola peganhenta! A cola é aquilo que me agarra à vontade de ser perseverante, de estar unida a Deus, à minha comunidade LD, e às comunidades locais que nos acolhem! O fruto em si mesmo, cujo o sabor doce se assemelha a uma goma, mas muito melhor, é a semente que cresce no meu coração pela alegria de estar aqui.

Estar em missão também tem muitas coisas que se colam e agarram a nós… algumas desafiantes, como o chegar às pessoas, o comprometimento nas atividades, e outras muito boas, como os sorrisos, os olhares curiosos, a vontade de partilharem comigo banana pão e peixe cozido, izaquente (2), banana madura, café quentinho, mas sobretudo a vontade de estar, que faz com o tempo pare nesses momentos.

O mais importante são mesmo as histórias das pessoas que nos tocam e o que fica é mesmo só uma vontade infindável de continuar a comer este fruto.

Susana Val
S. Tomé e Príncipe, 2018-2019

1 – Machim = Catana
2 – Izaquente = Prato Tradicional Santomense