Horácio Luís, vulgo, Conci

Um dos representantes da sua comunidade no Grupo Comunitário, tem uma presença forte, coerente, tem um olhar crítico sobre as coisas, é justo, inteligente, e tem uma capacidade de memorizar os números, as pessoas, as situações e conversas,

É com alegria que partilho a história de uma das pessoas com quem tenho estado a trabalhar nestes últimos tempos. Horácio Luís, é o nome que assina, mas todas as pessoas o conhecem por Conci. Nasceu e vive em Ponta Baleia, uma pequena comunidade no sul de S. Tomé e Príncipe, que vai crescendo a um ritmo próprio, mas que sonha muito em melhorar as suas condições de vida.

Conci tem 48 anos, 6 filhos, 3 casais, é vinhateiro de profissão. Levanta-se diariamente entre as 4h e as 5h da manhã, segue para os campos à procura das melhores palmeiras para colher a sua seiva, é dela que faz o vinho de palma, uma bebida muito presente na cultura do santomense. Sobe e desce por dia cerca de 15 palmeiras duas vezes, de madrugada e depois ao fim da tarde, primeiro para instalar os diferentes garrafões que colhem a seiva durante o dia, e depois quando já estão cheios vai recolhê-los, seleciona os sabores, divide e mistura-os para fazer um bom vinho.

A par disto, é presidente e músico do Grupo de Bulaué (1) – Unidade de Ponta Baleia. É também um dos representantes da sua comunidade no Grupo Comunitário, tem uma presença forte, coerente, tem um olhar crítico sobre as coisas, é justo, inteligente, e tem uma capacidade de memorizar os números, as pessoas, as situações e conversas, o que me deixa sempre admirado.

Há uns tempos, em conversa, perguntava-lhe para perceber o ponto de vista dele sobre o grupo e sobre a sua evolução, ao qual me respondeu com orgulho: “Ui, não tem nada a ver, fomos subindo, como uma escada.” E fez o gesto com os dedos a imitar um bichinho a subir, e continuou: “Agora temos instrumentos e dinheiro para os arranjar, já pensamos mais sobre as coisas, somos organizados”. Dizia isto com um olhar fixo em mim, mas sem descolar de tudo o que acontecia à nossa volta. Parecia que não estava atento, mas estava, sabia tudo, observava e absorvia tudo!

Neste momento estamos a trabalhar a interação do Grupo com o público nas atuações, e está a correr bem, o grupo é muito animado, gosta de cantar, dançar, sorrir e falar, já convida artistas locais para partilhar conhecimentos, tem sido intenso, apaixonante.

É claro que há caminho por fazer, todos os dias há novas metas para ultrapassar, o mais bonito é que vamos caminhando, e vamos!

Diariamente aceitamos este desafio, ao mesmo tempo bênção, de viver e de crescer, obrigado por assim ser!

Paulo Gonçalves
S. Tomé e Príncipe, 2018-2019

(1) Bulaué é um estilo de dança e de música santomense.