Grupo Tchiloli Formiguinha da Boa Morte alcança a sua autonomização

Depois de 8 anos de trabalho conjunto, o Grupo Tchiloli Formiguinha da Boa Morte tem já as ferramentas necessárias para continuar a trabalhar de forma independente, tendo sido assinado acordo de transferência dia 22 de junho.

Dia 22 de junho foi assinado o acordo de transferência do Grupo de Tchiloli Formiguinha de Boa Morte, marcando assim o fim do acompanhamento dos Leigos para o Desenvolvimento a um dos Grupos de Tchiloli que existe no Bairro da Boa Morte, em São Tomé e Príncipe, onde os LD têm  missão.

Depois de 8 anos de trabalho conjunto, o grupo tem já as ferramentas necessárias para continuar a trabalhar de forma independente, tendo sido assinado acordo de transferência depois de um ensaio que aconteceu na Aliança Francesa, no âmbito da preparação dos espetáculos que o grupo vai ter na próxima semana em Paris.

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O Grupo de Tchiloli Formiguinha de Boa Morte (GTFBM) nasceu no ano de 1956, fruto da vontade de 5 irmãos da família Carvalho, cuja presença ainda se sente nos dias de hoje, no espírito de rigor e exigência, e na força performativa dos seus descendentes, determinados a manterem viva esta herança singular, que é o Tchiloli. Foi no coração do Bairro da Boa Morte, e associado a uma tradição santomense, de as famílias viveram todas no mesmo quintal, a que chamam “quinté glandji” (quintal grande), que estes 5 irmãos que gostavam muito de teatro e animavam toda a gente que vivia perto desse quintal, começaram por ser um grupo de teatro e, mais tarde, um grupo de Tchiloli.

Tchiloli, que significa “tragédia” em crioulo forro, é uma das manifestações culturais tradicionais mais emblemáticas de São Tomé, numa mistura singular de teatro, dança e música. Esta peça teatral escrita no século XVI, pelo poeta madeirense Baltazar Dias, “A Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carlos Magno”, representa a história de um crime que leva duas famílias e os seus representantes a debaterem questões de governação e justiça. Um drama centrado na traição e na igualdade perante a lei.

O Formiguinha como é correntemente chamado localmente sempre fez muito sucesso e, já teve oportunidade de viajar além-fronteiras, entre Portugal, França e Bélgica, para dar a conhecer esta arte tão marcante do povo santomense.

Os LD começaram a trabalhar no bairro da Boa Morte em 2011, tendo o acompanhamento ao Grupo de Tchiloli Formiguinha de Boa Morte começado em 2014, onde os principais objetivos eram a valorização desta manifestação cultural endógena, capacitar o GTFBM com vista a passar de uma manifestação cultural comunitária para uma resposta cultural efetiva e diferenciada em São Tomé e desenvolver, capacitar e apoiar a formalização e autonomização do grupo a nível de gestão interna, geração de novos rendimentos e a assumir-se enquanto agente de valorização do Tchiloli a nível local, nacional e internacional. O trabalho desenvolvido ao longo dos  anos foi assim centrado no crescimento, na valorização do grupo e da sua cultura, na formalização e organização interna, assim como a autossuficiência e a sua autonomia.

Atualmente, o Formiguinha é constituído por 28 elementos, encontrando-se ativo, bem estruturado e organizado, é dinâmico, autónomo, possui figurinos e instrumentos em bom estado, e atua regularmente, mediante solicitação, sendo de destacar o seu grande reconhecimento a nível nacional e internacional.

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É uma alegria para os LD e para os seus voluntários a possibilidade de contactar de forma tão privilegiada com a cultura de São Tomé através deste grupo e, ao longo do tempo de missão, poderem assistir a apresentações diversas feitas por este grupo e acompanhá-lo neste caminho.

Os membros do grupo também reconhecem que este tempo de acompanhamento trouxe frutos para o Formiguinha e Mauro Pontes, que faz o papel de Sibila, a esposa do Valdevinos, diz que “foi muito bom, adquiri muita experiência através de Leigos.” Já o Edlane Mendes, cujo o papel é o do Conde Ganalão, conta-nos que “todos esses anos de trabalho para mim foi sensacional.”

O Manuel Carvalho, cujo papel é o do Imperador Carlos Magno, pai do Príncipe Dom Carloto, pertencente à Corte Alta, refere que “o trabalho foi bom, posso dizer que foi produtivo, tendo em conta que conseguimos desenvolver, dinamizar mais o grupo” e identifica vários momentos marcantes “nós podemos destacar, por exemplo, quando nós tivemos o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, que permitiu a aquisição de novos fatos, identificado por todos como uma grande conquista deste tempo de trabalho em conjunto. Outro momento marcante que é a associação, transformarmos o grupo em associação também foi bastante marcante, tendo em conta que era uma coisa que nós batalhávamos porque nós já tivemos problemas por não sermos associação então, os Leigos nesse caso ainda vêm dar mais uma mão. São esses dois momentos bastante bons. A organização do nosso próprio estatuto desde a sua criação, desde a criação os Leigos sempre estiveram presentes, os Leigos sempre nos apoiaram nesse sentido porque nós não tínhamos ninguém, não é, com capacidade para fazermos essa restruturação, criação desse estatuto, era necessário ter um estatuto para regulamentar as coisas.”

Para o futuro, o Mauro diz que vai “dar a minha continuidade, o meu contributo”, para “que o grupo não termine.” O Lyne refere que “agora o Formiguinha ficou mais jovem, diria que tem mais futuro.” O Lyne refere ainda que agora que os LD vão deixar de acompanhar o grupo “é seguir com os nossos próprios pés para a frente. Sempre para a frente.”

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Que o futuro reserve ao Formiguinha muitos sucessos e que continuem fortemente ativos na promoção desta expressão cultural típica de São Tomé.

Este projeto foi financiado pelo Camões, Instituto da Cooperação e da Língua e pela Fundação Calouste Gulbenkian.