Chimuara, Moçambique, abril de 1975. Aqui, na margem esquerda do longo e largo rio Zambeze, nasceu Miquitaio, meses antes da independência. Filho de camponeses analfabetos, passou uma infância feliz no campo: “Porque ser feliz é encontrar onde dormir e o que comer.” Desde criança “ajudava os pais na vida pesqueira e na machamba, no afugentamento de macacos e de pássaros”.
Em 1981, Miquitaio entrou na escola primária para as primeiras lições. Mas, anos depois, os seus estudos foram violentamente interrompidos: “Não consegui terminar a 5ª classe por causa da guerra.” Na sequência de um ataque, ocorrido em agosto de 1985, e após vários meses de deslocações internas, “fugindo de um local para o outro”, a sua família vê-se obrigada a refugiar-se no Malawi, onde é acolhida pela Cruz Vermelha e pelo ACNUR.
Foi no campo de refugiados do Malawi, onde viveu vários anos, que Miquitaio pôde retomar os estudos e concluir o 9º ano, passando então a lecionar ao serviço da Cruz Vermelha, apoiando outros colegas refugiados da 3ª à 5ª classe. Foi também ali que, entre 1991 e 1994, conheceu os Leigos para o Desenvolvimento, um encontro feliz que lhe mudaria as ferramentas para o futuro.
Presentes no campo de refugiados do Malawi, a convite do Jesuit Refugee Service, os LD vieram apoiar as populações moçambicanas deslocadas pela guerra e assegurar a docência de várias disciplinas do programa do Ensino Secundário Aberto Moçambicano. Foi assim que Miquitaio se tornou aluno e amigo dos LD, recordando com gratidão a paciência com que os Leigos lhe desvendaram os mistérios da Química, da Biologia e do Português: “Estou em crer que, se não fosse o apoio dos LD, não teria feito sequer o nível secundário.”
O que mudou na vida de Miquitaio depois de conhecer os LD? “O destino! O meu destino ficou completamente mudado! Se não fossem os Leigos, eu seria provavelmente um camponês, um pescador… Teria herdado uma vida como a dos meus pais. Quando encontrei os LD, a situação mudou: tomei um outro caminho. Com os Leigos, acabei tomando a carreira académica.”
Hoje, Miquitaio é engenheiro agrónomo, docente e investigador na Faculdade de Agronomia da Universidade Católica de Moçambique, em Cuamba, no Niassa. “Se eu hoje estou a lecionar cadeiras ligadas à irrigação e à química, isso é porque eu fui bem trabalhado pelos Leigos nessas matérias de cálculo, química, física e matemática. Foi porque eles [LD] deram tudo o que tinham para dar que eu hoje estou aqui. Para mim, foi uma lição muito aprendida: dar aquilo que você recebe. Eu recebi dos Leigos para o Desenvolvimento gratuitamente, e sinto que terei também de dar o meu máximo para os que precisam.”
Perspetivas para o futuro? Retribuir o conhecimento, trazer novas ferramentas ao mundo rural: “Os LD deram-me todas as ferramentas para o futuro, todas as ferramentas para poder caminhar. A minha ideia agora é dar continuidade à minha formação, com o doutoramento, para trazer esse know-how para dentro deste meio rural onde a faculdade está inserida.” Investigação, pesquisa e serviços de extensão agrária são agora as ferramentas com que Miquitaio quer retribuir, colocando-as ao serviço do desenvolvimento rural. Uma lição de bem, bem aprendida!