Fazer da espera (e da esperança) caminho

É espera que vira esperança, que invisto neste tempo que vivo e, que justifica a nossa presença. É espera que vira esperança, que invisto nestas pessoas, nas suas vidas, nos seus sonhos.

Estou sentada junto à estrada principal da Boa Morte, em São Tomé. Espero alguém. Isto de esperar é recorrente. Encho o meu dia de encontros e desencontros. Desencontros que com uma dose generosa de espera(nça) investida, viram ”encontros próprios”.

Fazer da espera (e da esperança) caminho. Encontrar o prazer de esperar. E se é caminho, não é uma espera estática. É espera que vira esperança, que invisto neste tempo que vivo e que justifica a nossa presença. É espera que vira esperança, que invisto nestas pessoas, nas suas vidas, nos seus sonhos (mesmo que seja apenas num momento, em que toda a minha atenção está naquilo que estão a partilhar). É espera que vira esperança e que invisto na construção do outro, na minha e na nossa!

Que bonito é ver, e sentir, que todos temos este desejo de espera(nça) dentro. Como é transformador alimentar este desejo. E ao mesmo tempo, como é exigente, no meio de tanto, parar e esperar. A paciência exigida. O esforço. O incómodo. A dúvida. O tempo. Estamos com pressa para quê? Repito esta pergunta para mim mesma recorrentemente. Tiro o relógio, na esperança que ajude. “Processo” em construção (para sempre, parece-me).

Esperamos alguém. Esperamos por aqueles com quem partilhamos caminho, “Deus cria o ser humano em relação” (e não na autossuficiência). Esperamos por nós próprios (quantas vezes sem nos darmos conta). Esperamos ser suficiente. Esperamos pela luz. Esperamos que a fruta amadureça. Esperamos por uma boleia. Esperamos pelo processo, pela construção. Que aprenda, que empreenda, que acerte e/ou que persista nisso. Esperamos que o sol abra, que a chuva passe. Esperamos o bom vento que nos traz descanso.

E o melhor desta espera, é o encontro que dela resulta. E como nos fomos preparando/desfrutando até esse tão esperado (ou não tão esperado) encontro.

Estou junto à serração, e já faz um tempo. Tiro um caderno e começo a escrever estas linhas. A Ju vem ver o que escrevo e aproveita para desenhar umas bolas no meu caderno. Tem três anos, chegou há pouco do jardim de infância e ainda está de uniforme, deliciosa! O cansaço apodera-se um pouco do seu pequeno corpo, devolve-me a caneta e pede-me que escreva. Apoia então o queixo no meu braço. A pessoa que esperava não chegou a aparecer, mas veio a Ju.

 

Mariana Costa
São Tomé e Príncipe, 2019-2021