Desde o início de dezembro que o Grupo Comunitário da Boa Morte (GCBM) andava a sonhar com esta limpeza. Depois de debatido o tema nas reuniões quinzenais, todos concordaram que seria essencial o envolvimento da comunidade local e também da Câmara Distrital de Água Grande (CDAG). Procurariam envolver a comunidade para uma maior responsabilização e sensibilização e a CDAG para que não faltassem os meios à comunidade para a limpeza (pás, forquilhas, gadanhas, machins e transporte do lixo para a lixeira da Penha).
Do plano passou-se à concretização. O aviso era claro (e estava espalhado pelas várias ruelas de Ponte Graça): “Grande limpeza junto ao tanque de Ponte Graça. Dias 18 e 19 de janeiro. Contamos com o apoio e a colaboração de todos para deixar o nosso bairro mais limpo!”.
O início da ordem de trabalhos estava marcado para as 5h30. Desta forma, permitiria não só que algumas pessoas se juntassem antes de irem para o trabalho mas também que todos evitassem o calor da manhã da Ilha de São Tomé.
Às 5h30, não foram necessários todos os dedos de uma mão para contar os presentes. O Percy, o Jerciley e o Luisinho foram os primeiros a chegar. Nenhum deles tem sequer 10 anos mas estavam prontos para ajudar (e dar o exemplo, mesmo sem saberem que o faziam). Passados uns minutos chegou o Tomé (uma das pessoas que representa a zona de Ponte Graça no GCBM). Deu uma pequena volta pelas ruelas mais próximas do tanque e constatando que a maioria das portadas ainda estavam fechadas, regressou ao ponto de encontro dizendo “Vamos começando, quando as pessoas virem, vão juntar-se”- são tomense, claramente, gosta de ver para crer. Bem dito, bem feito. “Cadinho a cadinho” foram-se juntando miúdos e graúdos. Juntos, empurravam o lixo do ponto alto para um outro ponto mais baixo, que facilitaria o acesso das carrinhas disponibilizadas pela CDAG.
Às 7h30 já estavam mais de cem pessoas junto ao foco de lixo, não contando aquelas que por ali já tinham passado, trabalhado, e seguido para os seus trabalhos. A estes moradores de Ponte Graça, vieram juntar-se 30 militares pertencentes às Forças Armadas de São Tomé e Príncipe, “força bruta” para agilizar o processo.
Quando chegaram as carrinhas, o espírito ganhou outro alento, os braços ganharam outra força e apesar de não haver música no ar, não deixou de haver.
Às 9h tudo parecia uma máquina bem oleada. A população estava em peso, os militares continuavam empenhados e os escuteiros já se tinham juntado. O Dalton, uma das pessoas que vive mais próximo do foco de lixo, tinha até disponibilizado a sua carrinha pessoal para ajudar no transporte deste lixo para a lixeira. A população estava também a organizar-se para que, depois daquele esforço partilhado, conseguissem também partilhar uma refeição composta – banana cozida com peixe cozido. O esforço de todos já começava a ser visível.
Depois das carrinhas da CDAG regressarem a primeira vez da lixeira avisaram que não tornariam a regressar – dado o mau estado em que se encontrava (e encontra) a estrada de acesso. Foi apenas assegurado o combustível (a utilizar na carrinha do Dalton) para que o lixo que já tinha sido puxado “do lugar” fosse retirado e não incomodasse, ainda mais, aqueles que ali vivem. Uma vez removido parte deste lixo, a população reorganizou-se e, com sucesso, conseguiram falar com o presidente da CDAG. Uma das carrinhas regressou então ao local. A tal “música” tornou a instalar-se no ar, e todo o lixo puxado foi levado para a já referida lixeira da Penha.
Depois daquele esforço (e almoço) partilhado, ficou a pairar no ar um “então e agora?”. O problema está longe de estar resolvido, mas ficou a certeza de que foi um primeiro passo gigante. Certamente estarão mais pessoas envolvidas naquele que for o próximo passo, seja ele qual for, para um bairro mais limpo e melhores condições de saneamento e higiene.