Quando ouvimos falar que fazer missão com os Leigos para o Desenvolvimento não é estar sozinha, mas sim com uma comunidade, assusta ao início. Afinal de contas, vamos partilhar um ano tão intenso e transformador com pessoas que mal conhecemos.
Temos 9 meses de formação que nos preparam para este ano, em que vamos conhecendo as outras pessoas, mas é difícil (se não impossível) saber como vai ser partilhá-lo com os missionários que são enviados connosco.
Aqui sou a Mariana, mas também sou “As 3” como muitas vezes nos chamam na rua e no bairro da Boa Morte, em São Tomé. Cheguei com a vontade e o desejo de que tudo corresse bem e não tenho dúvidas que esta é uma parte importante, na construção contínua da nossa pequena “grande” comunidade. Mas não só. Foi-me concedida uma enorme graça, que ainda hoje me surpreende. Deus decidiu que era com a Mafalda e com a Inês que tinha de vir em missão e com o passar dos meses acredito cada vez mais que só assim é que poderia ser.
Neste meses com elas, aprendi o valor da providência e como está sempre tão presente no meu dia; aprendi o que é viver com duas “irmãs” e que quem divide um chocolate é a última a escolher a sua parte; aprendi a deixar-me levar pelo sabor do dia, sem o ter planeado ao pormenor, com os nossos dias comunitários, que têm sido incríveis e aleatórios; aprendi a não ter medo de arriscar e a pedir, sem vergonha de receber um “não”; aprendi a ceder e a experimentar algo que à partida não seria a minha primeira escolha; aprendi a importância da oração e a viver uma Páscoa que me aproximou verdadeiramente de Deus. Que bonitas foram todas estas aprendizagens.
Esta minha/nossa comunidade está longe de ser perfeita, mas é feita à nossa medida. Temos encontrado semelhanças, mas aprendido a abraçar as nossas muitas diferenças. Como velhos amigos que se admiram e riem sempre das piadas do outro, também nós já nos acostumámos às “piadas à pai” da Inês, aos gritos da Mafalda quando vê uma aranha ou aos quilómetros que faço quando estou ao telefone. Rimos como se nos conhecêssemos há anos, mas também discutimos e nos chamamos à atenção quando é preciso, porque é assim que se vai construindo uma relação de confiança e passando o testemunho do que é partilhar uma missão.
Já foram vários os momentos em que estivemos lá umas para as outras, seja quando uma está mais cansada, doente, triste, preocupada ou com saudades e é nessas alturas que sei que se há uma coisa que levo deste ano é a Mafalda e a Inês e a relação que construímos em comunhão com Deus (ou Jesus) e graças a Ele.
“Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18,20)
Mariana Areosa
São Tomé e Príncipe, 2022-2023