Depois de uma semana de muito trabalho chega Domingo, um dia guardado para a família e para descansar. Tudo fecha, nas ruas da capital há menos carros, mas em contraste as casas e as praias enchem-se de pessoas. Famílias e amigos reúnem-se nos quintais, vão para as roças ou fazem piqueniques na praia enquanto as crianças brincam.
Também cá em casa é um dia que se começou a viver de forma diferente. A seguir ao almoço largamos o trabalho, reservando a tarde para vivê-la com a comunidade de uma forma distinta dos outros dias: subimos a Boa Morte a saber que iremos ter uma tarde cheia de encontros. Muitas vezes sem destino, caminhamos num leve leve com a certeza de que na estrada vamos ser paradas por um grupo de crianças que nos chama para brincar. É já um compromisso que temos com elas: ao longo da semana, relembram-nos sempre de que ao Domingo, é dia de brincar! Não há como recusar, ao ver a alegria e expetativa nas suas caras.
Na realidade, não fazemos grande coisa, deixamo-nos simplesmente levar pelas suas brincadeiras. Aceitamos que nos subam pelas costas acima, corremos, jogamos ao mata ou competimos para ver quem tem mais força… Com a roupa suja e um sorriso na cara, volto a ser criança!
Ao crescer tornamo-nos mais calculistas, perdemos a ingenuidade e usamos como desculpa a prudência. Percebemos que temos de nos pôr ao caminho, traçar objetivos, escolher os passos que queremos dar, alcançar a nossa meta. E ainda bem! Mas ao preocuparmo-nos com o futuro e com tudo o que há por fazer, não conseguimos, muitas vezes, desfrutar do presente. Como é bom também ter esta capacidade de abandono, de nos deixar abraçar e guiar, de viver sem pressa, de não ter a necessidade de controlar tudo… Na realidade, há muita coisa que não conseguimos controlar por mais que tentemos e não era bom sabermos viver felizes mesmo assim? Equilibrando planos, expetativas e sonhos, podemos viver como crianças.
Na Bíblia diz “Os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram-lhe: Quem é o maior no Reino do Céu? Ele chamou um menino, colocou-o no meio deles e disse: em verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as crianças, não podereis entrar no Reino do Céu. Quem, pois, se fizer humilde como este menino será o maior no Reino do Céu” (Mt 18, 1-4). As crianças têm a capacidade de se deixar levar, a predisposição de acreditar e se entregar. Quero voltar a ser pequenina, vivendo os caminhos de Deus com espanto e confiança.
Inês Milagres
São Tomé e Príncipe, 2022-2023