Desde que cheguei, em cada celebração da vida de alguém pertencente à comunidade local existem duas coisas que nunca faltam – colunas tamanho XL e um bolo do mesmo tamanho.
Ora, o bolo das celebrações costuma ser um “bolo simples”, às vezes pode levar uma cobertura doce, mas bolo simples é o melhor bolo para cada festa. A tradição diz-nos que antes de qualquer refeição, existe o momento do corte do bolo, o aniversariante tem que escolher uma madrinha e um padrinho que cortam a primeira fatia com o mesmo.
Fiquei a pensar, como em Portugal acabamos por enfeitar e encher cada bolo que fazemos com todos os ingredientes que temos à nossa disposição (chocolate, iogurte, limão, cenoura…). Ora, o bolo simples produz a sua beleza por si mesmo não há como enganar, fica sempre bom. Basta termos os ingredientes base como a farinha, ovos, açúcar, óleo e um bocadinho de fermento.
Olhemos com mais atenção para este pequeno exemplo, e para tantos outros que experimento ao longo da missão, no dia-a-dia, na alegria de viver, nas conversas das mamãs nas praças, nos ensaios dos grupos corais para cada Missa, no pôr-do-sol vivo e ofegante todos os dias. Questiono-me sobre quais serão os bolos simples que comemos cá, nunca antes questionados como bons, aos nossos pequenos olhos?
Aqui, em Missão, percebo que tudo tem outro sabor, o sabor que nós conhecemos desde crianças e que, todos os anos, em cada aniversário ou celebração, acrescentamos um novo sabor ou um sabor diferente, aqui basta o simples, essencial, farinha, ovos e açúcar.
A simplicidade do “bolo”, é das grandes maravilhas e belezas em Angola, onde cada pessoa da comunidade experimenta todos os dias, já sem espanto por ser comum e diário, mas onde cada olhar atento, possivelmente de uma pessoa que sempre experimentou bolos com muitos sabores e efeitos, denota a beleza do comum e ordinário, surpreendendo-se e perguntando-se como viveu a sua vida a comer tantos bolos diferentes quando só precisa de um para viver.
Cada dia vivido em Angola é uma oportunidade de surpresa perante a beleza do mais puro, da maior simplicidade e das maiores alegrias.
Margarida Barbosa
Ganda, 2022-2023