Aragão, uma vida de serviço

Reconhecia o potencial das coisas e ia-se disponibilizando a fazer parte. Para Aragão, lutar por uma comunidade unida sempre foi razão suficiente para a sua participação: “Vi que era uma boa coisa. Ter a comunidade unida."

Aragão António nasceu a 9 de abril de 1983, em Santana, na ilha de São Tomé. É o terceiro de 11 filhos do lado da mãe, com quem cresceu. E é pescador de profissão.

É um homem com um coração gigante e com uma dedicação enorme àquilo que faz. A sua vida mostra-nos o que é não viver para si, mas viver em missão permanente, cuidando daqueles que estão à sua volta.

Aragão estudou até à 4ª classe e enquanto estudava ia pescando com fio, na praia. Na altura, a escola, no local onde vivia, só existia até à 9ª classe. Parou de estudar na 4ª classe devido à falta de condições financeiras da sua mãe.

Saindo da escola, foi aprendendo a pescar com o tio, o primo e alguns colegas já profissionais. E com apenas 15 anos começou a trabalhar na agricultura, passando por várias das roças de S. Tomé, onde predominava o cacau, mas nunca deixando a pesca.

Em 2002, mudou-se para Porto Alegre, no Sul de São Tomé, como pastor auxiliar da sua igreja. Na altura, seria por um período de 2 anos, mas acabou por ficar uns 4/5 anos. Aí conheceu Lucrécia com quem veio a casar mais tarde, já em Santana.

Depois de casar, foi enviado de novo para Porto Alegre, desta vez como pastor local, de forma permanente. Construiu casa em Vila Malanza, onde vive atualmente com Lucrécia e os seus 4 filhos.

Quando os primeiros voluntários dos Leigos para o Desenvolvimento chegaram a Porto Alegre, em 2011/12, Aragão já lá se encontrava de forma permanente. Começou por trabalhar com os LD indiretamente. Eram vizinhos, então Aragão fornecia-lhes peixe. Depois, a partir de 2017, ano em que se deu início ao Fórum Malanza, começou a envolver-se diretamente na comunidade, com os LD.

Este Fórum juntava pessoas da comunidade e representantes de entidades locais para discutir os problemas da comunidade. Aragão, sendo uma pessoa interessada e participativa naquilo que ia acontecendo na comunidade, foi convidado a participar, e desde início teve uma participação ativa. Mais tarde, constituiu-se a Associação Forte da Comunidade de Malanza, a partir deste Fórum, da qual Aragão foi presidente.

Desde que iniciou o trabalho com os LD, Aragão rapidamente se tornou uma das pessoas mais ativas na comunidade, fazendo parte de vários projetos, nomeadamente: o Grupo Comunitário de Porto Alegre, sendo parte da Equipa de Coordenação do mesmo; o Percurso Interpretativo Histórias ao Sul, sendo um dos mediadores culturais responsáveis pelo Percurso; e a Marca Porto Alegre, fazendo parte do Comité de Gestão da Marca, que se encontra já autonomizada, sem acompanhamento dos Leigos para o Desenvolvimento.

À medida que os projetos iam surgindo, Aragão reconhecia o potencial das coisas e ia-se disponibilizando a fazer parte. Para ele, lutar por uma comunidade unida sempre foi razão suficiente para a sua participação: “Vi que era uma boa coisa. Ter a comunidade unida. Essa é a razão de eu participar.”

Entre as várias competências que foi adquirindo ao longo destes anos, Aragão salienta algumas: “Aprendi um pouco sobre projeto, como formar um projeto. E também aprendi como construir uma carta, como escrever uma carta para qualquer instituição. Foi mesmo os leigos que ensinou-me, eu aprendi isso diretamente com eles.”

Reconhece a exigência deste trabalho voluntário, mas continua, porque acredita que é a participação que dará continuidade ao que se vai fazendo e que poderá atrair outras pessoas. Como diz “parado nada vai ser feito”.

Olhando para a evolução da comunidade, Aragão reconhece que houve mudança, porque começa a existir união. E em relação às pessoas que trabalham com os LD, como diz “Já há uma mente diferente”. E acredita que é esta mudança de olhar que permite o desenvolvimento. “Futuramente, para aqueles que têm visão, acredito que vai haver continuidade”.

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