A promoção das mulheres angolanas na Igreja Católica

Ao longo destes seis meses de missão, em Angola, fui percebendo que, apesar da realidade social, as mulheres têm vindo a conquistar espaço e oportunidades de participação na vida comunitária.

Na Ganda e no Alto Catumbela, a mulher começa o seu dia ainda antes do nascer do sol. Para a maioria, o dia inicia-se com algumas horas junto da cacimba¹ mais próxima de casa a encher bacias com água, as quais vão ser transportadas nas suas cabeças até à lavra² ou vão servir para as tarefas domésticas e cuidados pessoais da família. A sua lavra pode ficar a mais de 1hora a pé de casa e durante o caminho, muitas são as que ainda levam consigo, o seu filho mais pequeno às costas bem amarrado com um pano, e a sua enxada na mão. A manhã é passada na lavra que cultiva sozinha, ou com os seus filhos que não vão à escola, e/ou o seu marido. Aqui bem no interior da província de Benguela, a mulher é agricultora, mãe, esposa e dona de casa. Ela é a principal educadora dos filhos e é aquela que garante a preservação das tradições mais ancestrais da família, preparando as suas filhas para o casamento, maternidade, educação dos filhos, cuidado do lar e família. Todas estas responsabilidades e tarefas ocupam a maior parte da sua vida e do seu tempo, o que reduz bastante a sua visibilidade social e possibilidade de participação em atividades e decisões importantes para a sua comunidade, ficando este papel social destinado aos homens.

Ao longo destes seis meses de missão, em Angola, fui percebendo que, apesar desta realidade social, as mulheres têm vindo a conquistar espaço e oportunidades de participação na vida comunitária. Descobri que esta afirmação social muito se deve a um movimento de Promoção das Mulheres Angolanas na Igreja Católica, criado na Diocese de Benguela, há quase 30 anos, por desejo do seu antigo bispo, Dom Óscar Braga e do membro fundador, Rosália Nawakemba. Este movimento chama-se PROMAICA e representa um dos maiores movimentos católicos femininos em Angola e hoje está presente em todas as dioceses do país, sendo reconhecido o seu impacto na sociedade pelo Estado e por todas as outras Igrejas.  Ele acredita que a mulher é a chave para a mudança e evangelização e, por isso, tem impulsionado vários projetos de desenvolvimento socioeconómico das mulheres. A existência destes grupos tem contribuído para a construção de uma nova visão da mulher angolana, sobretudo no meio rural, associada à sua capacidade de participar socialmente e de gerar rendimentos extras para a sua família, bem como, ao direito de ter voz e contribuição ativa no desenvolvimento da sua comunidade.

Desde que cheguei a Angola, tem sido muito inspirador estar junto destes grupos de mulheres, seja na pastoral no Alto Catumbela ou nas eucaristias e encontros dinamizados pelo PROMAICA na Ganda. A cada encontro cresce a enorme gratidão que sinto por poder assistir a esta mobilização e empoderamento de centenas de mulheres, pois acredito muito que é através deste tipo de movimentos que a mulher angolana e, em particular, a de origem mais rural, está a conseguir conquistar e resgatar muitos dos seus direitos, fortalecendo a sua dignidade enquanto mulher e cidadã. Por isso, continuo a gritar bem alto com todas elas: “PROMAICA, avança”, pela fé e esperança no futuro e dando graças pela vida, visão e legado de Dom Óscar Braga.

Catarina Teixeira
Ganda, 2022-2023

¹ Cacimba – cova ou poço usado para armazenar água.
² Lavra – terra que é preparada para ser cultivada.