«Há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de serviços, mas o Senhor é o mesmo; há diversos modos de agir, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito, para proveito comum. A um é dada, pela ação do Espírito, uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de ciência, segundo o mesmo Espírito; a outro, a fé, no mesmo Espírito; (…). Tudo isto, porém, o realiza o único e o mesmo Espírito, distribuindo a cada um, conforme lhe apraz.» (1 Cor 12, 4-11)

Desde que cheguei a terras de missão esta passagem bíblica foi-me sempre acompanhando e uma das coisas que rezo é conseguir ter sempre um olhar limpo para ver a grande beleza que há em sermos todos diferentes.

Com o passar do tempo vou tomando mais consciência de que realmente o Senhor chama cada um pelo seu nome e com os seus talentos. Chama-nos a servir juntos para que os diferentes talentos que temos sejam postos a render e a “equipa” funcione.

Na equipa de coordenação do Grupo Comunitário da Boa Morte¹, vou reconhecendo a grande riqueza da diferença e encontrando muita beleza na forma como o Senhor se serve dos talentos de cada um, para que juntos coordenem o bom funcionamento deste grupo.

A equipa de coordenação é composta por 4 pessoas. O Mário, o Lau, a Licínia e o Naylton.

O Mário é enfermeiro de profissão, mas no bairro tantas vezes dizem que ele é “quase” médico porque é o primeiro socorro da gente que lá vive. Está no grupo comunitário desde o seu início, há 10 anos e percebe a beleza do trabalho deste grupo. Pela sua grande dedicação ao longo destes anos a este projeto, acaba por ser um motor. Tem consciência de que uma comunidade unida pode trabalhar para melhorar o bem-estar de todos. Nas suas palavras estar no grupo comunitário é: “dar de mim, daquilo que eu tenho, da experiência que eu tenho, das minhas capacidades para o serviço da comunidade e dos outros.”

O Lau é um jovem adulto, sempre bem-disposto, traz consigo leveza e animação. Com um coração generoso coloca a render os seus talentos, mas acima de tudo confia que vai sendo capacitado em cada tempo para as tarefas que lhe são confiadas. Tem o seu próprio negócio, aliás tem dois negócios (muito comum por cá). Tem uma quitanda², que serve as pessoas que vivem na sua zona, e faz fretes³ com a sua moto-carrinha.

A Licínia é a única mulher da equipa, com apenas 19 anos tem uma presença muito respeitada por todos. Responsável, organizada e atenta, é-lhe confiada a tarefa de ser secretária do grupo comunitário. Mostra a força que as pessoas podem ter quando têm “esse amor de fazer as coisas acontecerem bem feitas.”

O Naylton é um jovem bem conhecido por todos no bairro da Boa Morte, ele próprio conhece bem o bairro onde vive e isso é uma mais-valia grande, porque ajuda o grupo a chegar a novas pessoas. Dedicado e com vontade de ajudar os outros, a sua simpatia cativa todos com quem se cruza.

São todos muito diferentes, mas tem em comum, uma coisa muito importante que os une. A vontade de colocarem os seus talentos a render para que o grupo seja um espaço onde se procura melhorar a vida das pessoas do seu bairro.

É mesmo bonito ver que as suas diferenças são espaço de coesão. Sabem muito bem o que cada um pode dar. São diferentes, mas veem a beleza disso e quando se juntam há sempre uma grande alegria. Há neles também uma grande humildade em reconhecer nos outros aquilo que os complementa.

Cada um é chamado a servir. E o Senhor chama-nos pelo nome, conhecendo muito bem tudo o que somos, as nossas limitações e os nossos dons. Chama-nos porque nos ama e nos quer a trabalhar na construção do Reino.

Mariana Pedro
São Tomé e Príncipe – Cidade, 2021-2022

¹ O Grupo Comunitário da Boa Morte foi criado em 2011 e reúne as entidades formais e não formais do bairro e procura ser um espaço de partilha e resolução de problemas da comunidade.

² Quitanda – pequenas lojas de bairro semelhantes a mercearias.

³ Fretes = serviços