Aqui, em missão, as relações demonstram-se numa simplicidade e cumplicidade que nos ensinam e nos fazem repensar a maneira como nos relacionamos com os nossos conhecidos e desconhecidos.
Todos os dias, fico perplexa com a pureza das relações, com a demonstração de afeto, de amor, quando, por exemplo, observo as crianças vestidas com a bata da escola a caminhar pelas ruas da Ganda de mão dada, a vaguear na alegria da sua amizade, demonstrando um dos atos mais simples e humanos do ser, o amor. Realmente, na realidade onde nos inserimos, não existem “restrições” impostas ou algum tipo de condutas a seguir no que toca às relações humanas, dá-me a sensação que as pessoas apenas vivem e expressam o que sentem, sem vergonhas.
No tempo decorrido de missão, observo atentamente as diferentes formas de carinho. O amor de uma mãe para um filho não está tanto nos cuidados, não se esconde na compra de bens materiais mas exalta-se pelo tempo passado entre os dois e, principalmente, pelas demonstrações puras de afeto. O amor para com um desconhecido ou amigo retrata-se, inúmeras vezes, através do regresso da lavra, onde a pessoa dona do terreno, a caminho de sua casa, leva sempre milho ou mandioca a mais para partilhar com alguém que se cruze no seu caminho.
Deste modo, questiono a quantidade de normas sociais intrínsecas na nossa sociedade, por conviver diariamente com uma comunidade que simplesmente se entrega e expressa o que sente, tudo o que vive e possui, muitas vezes, sem saber como será o dia de amanhã, apenas sabendo que o amor partilhado e vivido não se esgotará, tenderá sempre a aumentar e a multiplicar-se pelas formas mais honestas que poderemos sequer conceber na nossa cabeça.
Margarida Barbosa
Ganda, 2022-2023