Uma das coisas que mais me surpreendeu (e continua a surpreender) desde que cheguei a São Tomé é a alegria que este povo tem. Penso que é algo comum a todos os que vêm visitar este país tão bonito, pois sobressai e está presente em qualquer sítio que vamos. Demonstrado em pequenos gestos, no modo como nos recebem ou nos dão coisas, nos sorrisos estampados nas caras, no cantar e dançar, na forma efusiva de reagir às coisas e na sua maneira genuína de estar, impressiono-me e pergunto-me como é possível? Seria fácil pensar que os santomenses não são alegres, pela vida dura que levam, os inúmeros trabalhos que têm para conseguir alimentar as suas famílias, a corrida de um lado para o outro, sempre atarefados, o peso da instabilidade deste país, etc. Inúmeros são os sofrimentos, mas ainda assim, deparo-me constantemente com pessoas alegres.
Levei algum tempo a tentar explicar este mistério. Compreendi que os santomenses são pessoas simples e que toda a sua vida se resume ao saber saborear o presente. Eles, sim, sabem aproveitar o que a vida lhes dá, pois dentro do seu coração têm uma noção grande de que não podem controlar tudo e que tudo o que vão recebendo, é instrumento para seguirem caminho.
Não deixa de ser um mistério, como conseguem encontrá-la na dureza do seu quotidiano, o que torna impressionante testemunhar esta alegria, refletida na simplicidade. Penso em como me é difícil não me queixar e manter um sorriso constante na cara, ao longo do dia, seja porque algo não correu como queria, porque surgiu um imprevisto, porque não consegui alcançar alguma meta de trabalho, etc. Tudo porque é difícil ter um coração simples. Na busca da felicidade, tentamos seguir um plano objetivo para lá chegar, mas só complicamos as coisas, pois acabamos por não conseguir conceber a ideia de que (talvez) não seja preciso muito para sermos alegres.
Na “Vida em Missão”, uma regra de vida que orienta os voluntários dos LD em missão, é incentivado um estilo de vida simples. Vejo como aqui, em São Tomé, com estes exemplos tão grandes e visíveis, sou constantemente relembrada a ser simples no meu modo de estar e ser. No fim do dia, o que conta é viver no presente e ser agradecida, olhando a simplicidade como um dom e uma oportunidade para segui-Lo.
Senhor, ajuda-me a encontrar esta alegria misteriosa!
Mafalda Neves e Castro
São Tomé e Príncipe, 2022-2023