12 Jun 2019 | Testemunhos de Gambozinos e Famílias
O que sonha um Gambozino?
Em primeiro lugar, confesso que nunca tinha parado para pensar nisto… Nós, gambozinos, com o que é que sonhamos? Quais são os nossos maiores desejos enquanto participantes e membros desta tão grande família?
Refletindo um pouco, descobri que ser Gambozino era, na sua essência, acolher todas as diferenças, perceber que todas as realidades se podem cruzar e que o sítio de onde vimos, as nossas diferenças ou a nossa cor da pele não são mais do que desafios que Jesus nos lança para irmos à procura da relação com o outro. Deste modo, um Gambozino pretende que aqueles dez dias no verão e os mini-campos se
prolonguem para o nosso quotidiano. Sonham com uma sociedade na qual, tal como acontece nos GBZ, as diferenças desapareçam e onde a amizade, independentemente de todos os outros “obstáculos” possa ser o maior valor a partilhar .
No fundo, para um Gambozino, penso que uma “vida perfeita” seria uma vida semelhante a um campo de férias. Fugir do supérfluo e entregarmo-nos a 110% ao outro, colocando-o em primeiro lugar. É claro que, com todos os contratempos e confusões do dia-a-dia, esta ideia de perfeição muitas vezes passa ao lado, mas, como Gambozinos, é possível sonhar. Sonhar com uma vida entregue aos outros, à relação e àqueles que mais precisam. Sonhar ser como Jesus.
António Serrano
15 anos, Lisboa
12 Jun 2019 | Testemunhos sobre actividades
Ir ao RAIO? Mas o que é isso afinal?
Comecei a “animar” Gambozinos no ano passado, mas ainda não tinha tido a oportunidade de entrar nesta grande aventura que é o RAIO (Reunião de Animadores Interessados em Ordenar-se)…
Sem saber bem o que esperar, lá fui eu (e ainda bem que fui!). Sinto que não sou a mesma animadora depois deste mega fim de semana em que rezei e sonhei os Gambozinos! Fez-me relembrar o porquê de estarmos aqui e que quem nos guia nesta Missão é e será sempre “O Grande Gambozino”! Senti-me muito amada e bem acolhida com cada miminho recebido da equipa que preparou o RAIO e das “senhoras lá de casa”, as nossas queridas cozinheiras… E acima de tudo no coração de cada animador e cada gambozino! Para além de tudo isto, o que traz mesmo sentido às coisas e faz cada momento valer mais que a pena são as amizades (até aquelas que nem imaginávamos que tínhamos…)
Agradecida e mega orgulhosa de pertencer a esta grande família que Deus constrói 🙂
Beatriz Pereira, animadora
12 Jun 2019 | Testemunhos de animadores
Oh Gambozinos
Dizemos a toda a hora que somos loucos da cabeça, eu acho que somos mesmo. Estamos tão dentro deste desafio enorme e tão entusiasmados com a missão que nos é posta à frente que não reconhecemos quão louca é. Cada animador e cada animado que eu encontro nesta louca associação é um pouco (ou muito) louco. E os pais que não se preocupem, porque esta loucura não é daquelas que acaba com um braço partido, uma ida ao hospital ou um trauma de infância mas daquelas que nos confrontam com a verdade de quem nós somos, que nos desafiam a sair do nosso mundinho e a conhecer realidades opostas às nossas, que nos chamam a ir mais fundo, que nos pedem que nos entreguemos mais do que nós achamos que somos capazes, que destroem os nossos preconceitos, daquelas loucuras suficientemente loucas para ser encarada como missão.
Se chegassem a mim e dissessem: “Olha, temos aqui uma ideia: queríamos juntar miúdos de todo o lado que nunca se conheceram, uns de bairros, outros das grandes cidades, todos muito diferentes e com culturas e origens muito diferentes e misturá-los a todos. Queremos criar amizades profundas entre eles, queremos que se conheçam a si próprios, queremos pô-los a servir, isto e tanto mais a acontecer durante o ano todo e especialmente durante dez dias no verão no meio do nada! Ah e claro, isto tudo só é possível porque queremos que todos vejam a alegria que é conhecer Jesus”. Eu dizia: “man isso é meio louco, ou totalmente louco!”
Mas claro! Só resulta por ser tão louco! Senão não era uma missão para tantos de nós, senão não puxava tanto de nós próprios e não nos mostrava tudo o que podemos ser e fazer pelos outros. Eram só mais uns dias bem passados no verão ou umas atividades até giras de vez em quando. A exigência e intensidade que sentimos desta proposta gambozínica vem da loucura que é. E desta loucura vem também a profundidade e a beleza que acompanha tudo aquilo que é realmente bom e sério o suficiente para nos darmos todos e fazê-lo com tanta alegria.
Temos uma missão louca à imagem da loucura de Cristo. É esta a loucura que queremos imitar. Porque foi uma profunda loucura a Sua vida. A olhos vistos. A loucura de um Deus que nasce pobre numa manjedoura, que se baixa para nos lavar os pés e que morre na Cruz para nos salvar e salvar aqueles que o tinham negado e abandonado. A loucura de um Homem que viveu e morreu por nós. É Ele que seguimos nesta missão, é dele que somos embaixadores. Queremos dar testemunho da Sua vida aos outros e exprimentar da loucura que foi a Sua vida.
Como escreveu o Padre Pedro Arrupe sj:
“Senhor, dá-me o Teu amor, que me faça perder a minha “prudência humana” e me leve a arriscar a dar o salto, como S.Pedro, para ir para Ti: não me afundarei enquanto confiar em Ti.
Não quereria ouvir: “Homem de pouca fé, porque duvidaste?” Quantos motivos teológicos, ascéticos, de prudência humana, aparecem no meu espírito e tentam demonstrar-me “sob a aparência de bem” com muitas razões humanas, que o que Tu me inspiras e pedes é imprudente: uma loucura.
Tu, Senhor, segundo isso, foste o mais louco dos homens, pois inventaste essa insensatez da cruz.
Senhor! Ensina-me que essa insensatez é a tua prudência, e dá-me tal amor à tua pessoa para que seja eu também outro louco como Tu.”
Kiko Cardoso da Costa, animador
12 Jun 2019 | Testemunhos de Gambozinos e Famílias
Comecei a fazer campos de Gambozinos em pequena e era bastante tímida. Ao início não estava muito confiante, mas um animador conseguiu convencer-me e até hoje não me arrependo da decisão de fazer o campo que mudou a minha vida.
Graças aos campos que fui fazendo consegui libertar-me um pouco mais, ser mais confiante e querer ajudar mais o próximo. Agora, com o passar dos tempos, consigo ver que, com os campos e as atividades, criei grandes amizades e consegui aproximar-me um pouco mais de Deus e também consigo ver que os Gambozinos me ajudaram imenso a crescer.
Eu faço campos para poder estar com esta grande família, no meio da natureza, a fazer as nossas atividades, a conviver uns com os outros, a cantar e a fazer aplausos e também para conhecer novas pessoas. No final dos campos, chegamos sempre a casa com um grande sorriso na cara, a ler as dedicatórias que nos deixaram e a lembrar os grandes momentos que vão ficar para sempre guardados na nossa memória.
Gosto imenso de fazer parte desta grande família e espero poder fazer parte durante muitos anos!
Telma Pires, 17 anos, Pragal
12 Jun 2019 | Testemunhos de animadores
«No princípio»… é assim que começa. Foi assim há sei-lá-quanto-tempo, quando Deus decidiu criar o mundo, o céu e a terra, a luz, o dia e a noite, o sol e a lua. Foi assim há dois mil anos, quando decidiu encarnar para nos salvar, quando viveu e comeu com os Seus amigos, quando morreu na cruz e ressuscitou. Foi assim em 1996 quando Se decidiu a criar os Gambozinos. «No princípio». Tal e qual. Porque haveria de ser diferente? Afinal, ser Gambozino é ser como Jesus – é morrer um bocadinho cada dia, é dar a vida, é tê-la nova.
É certo para todos os que são ou foram (pode deixar de se ser?) Gambozinos, que sê-lo é uma travessia. No princípio, pelo menos, custa horrores passar dez dias longe de casa. No princípio, pelo menos, a sujidade é uma chatice. No princípio, pelo menos, ser Gambozino dá cabo de nós – mata-nos.
O que tem ser Gambozino a ver com a Páscoa? Tudo.
É que começa assim mesmo! No princípio é preciso morrer. É preciso ser escravo no Egipto, como o povo Judeu. É preciso sair de casa, sair da tenda, e caminhar. Lá vem a peregrinação… Há que atravessar o mar vermelho. Há que atravessar Braga, Peniche e o Pragal. Há que atravessar Porto e Lisboa! Não chega. Há que atravessar o resto do mundo! Sabes, é isso mesmo que significa “Páscoa” – passagem. Há que passar por aquela fase tímida em que não sei onde me vim meter; há que atravessar os meus medos; há que cruzar o que nunca imaginei ser capaz. A única coisa que não podemos passar é mesmo pelo meio da roda.
É que, quando as mulheres foram ver o sepulcro, a roda que o fechava tinha rolado. E rolaram os BDSs, rolaram os Boas-Noites, rolaram as missas… No princípio, quando chegaste aos Gambozinos, havia uma porta fechada, uma tenda desconfortável, um aplauso ridículo que nunca irias fazer. Aí, no princípio, havia um mar entre ti e aquele outro animado que vem de uma realidade monstruosamente diferente. Mas isso, sei bem, foi só no princípio.
Onde é que eu ia? Ah!, sim, a roda rolou. Mas que volta a vida deu! A porta abriu-se. Talvez tenhas feito companhia a Maria Madalena e ficado a chorar à porta. Talvez tenha sido num sketch que viste Jesus vestido de jardineiro, ou talvez tenhas visto um anjo nos jogos da lama – vestido com uma «túnica branca» – que te contou tudo: o Senhor Ressuscitou! Aleluia! «Gambozino, porque choras»? Afinal, quem nunca chorou? Dizem que um homem não chora… isso é até Jesus nos falar. Depois disso, não somos mais homens nem mulheres, crianças nem adultos, animados nem animadores, PBPs nem LPRs… chegados ao ponto em que Jesus nos olha – a nós, particularmente, intensamente, docemente – já não há eu. Aí podemos chorar. Mas Ele, esse Deus tão bom que nos entrou pelo bairro adentro, que nos entrou pela vida adentro, que nos entrou pelo coração adentro… esse Deus que nos ensinou a chorar.. não nos deixa a chorar. Disse e repete: «Gambozino, porque choras»? E, quando não Lhe conseguimos responder, traz-nos chá e bolachas, um abraço, um sorriso, a Sua presença.
No princípio – vá, talvez durante – talvez até ao fim – é preciso morrer. A porta aberta mostra um túmulo vazio. Afinal, o que procuravas? Quem sabe seja essa a grande travessia, a grande páscoa: procurar algo diferente. Daí em diante, a vida é diferente. «Doravante, serás pescador de homens». Acabou o Campo; acabou o Dia-Fixe; acabou o Louco. E agora?
Sorri! Não é só uma nova vida, um recomeçar. É uma vida nova, um recriar. No princípio… Isto é a Páscoa.
O que é que isto tem a ver com os Gambozinos? Não sei, diz-me tu.
Gonçalo Costa, SJ