Encontrarmo-nos no silêncio

Encontrarmo-nos no silêncio

O silêncio assusta. Todos os dias somos bombardeados com conversas e palavras que nos fazem acreditar que é isso a comunicação. Nos exercícios espirituais, o silêncio é um desafio que nos faz começar a perceber que o estereótipo de comunicação não precisa de ser verbal.

O silêncio é a mais sincera maneira de estar com alguém. Porque é no silêncio que estamos verdadeiramente “nus”, só o estar, faz-nos dar a conhecer.

Nos exercícios, vamos ao encontro de Jesus neste estado de nudez, estarmos como somos, para Ele.

Este estar, entre nós e Deus, faz-nos conhecer a nós mesmos através do conhecê-lo, a Ele. Quem é Deus? E quem sou eu? É com esta relação que percebemos que somos verdadeiros instrumentos nas Suas mãos e, através disso, sim, começamos a perceber quem somos, porque é que o somos, e com que objetivos o somos.

Para o dia a dia trazemo-nos a nós no nosso verdadeiro “eu”. Cheios de Graça e com mais certezas do que somos e do porquê de aqui estarmos, nós próprios. Com consciência e segurança que Jesus está MESMO presente na nossa vida, nas nossas relações, maneiras de estar e de agir.

Joana Ló de Almeida

25 anos de história a criar laços e a fazer pontes

25 anos de história a criar laços e a fazer pontes

Tudo começou com um sonho. Numa sociedade em que as pessoas se dividem em grupos, mediante a sua condição social, os rendimentos da sua família, o seu nível de riqueza, geram-se necessariamente injustiças sociais e separações comunitárias. As pessoas, sobretudo as crianças e os jovens, partem de lugares distintos: uns, com uma família estável, onde o pai e a mãe criam as condições para um crescimento saudável, têm acesso a uma educação de qualidade, têm ao seu alcance todos os meios materiais adequados, contribuindo todas estas condições para a construção de um futuro de felicidade. Outros, porém, nascem no seio de uma família desestruturada, sem acompanhamento adequado, com uma educação deficitária, num contexto muitas vezes de violência quotidiana, tornando-se muito difícil serem felizes. E o mais triste e doloroso é que, naturalmente, estes dois mundos não se cruzam, não se relacionam, vivem isolados.

Tudo começou em Braga. Como todas as coisas grandes, o projecto dos Gambozinos começou com um pequeno grupo de miúdos da rua de S. Barnabé, mais um grupo de crianças de bairros sociais, a quem os jesuítas queriam dar algum apoio. Com o desejo de promover as vidas destes miúdos, utilizando a vasta experiência dos Campos de Férias, surgiu a ideia: Vamos organizar um campo de férias onde os participantes sejam provenientes, metade de classes sociais desfavorecidas, e outra metade de classes sociais privilegiadas. E assim se realizou o primeiro campo de Férias, em colaboração com o CAMTIL, no ano 1996.

Tudo começou com muitas incertezas, riscos e dúvidas. A intenção era, sem dúvida, boa. Porém, algumas perguntas faziam pensar no que poderia acontecer quando estes dois mundos, naturalmente incomunicáveis e distantes, com dois modos de olhar a realidade, poderiam conviver saudavelmente ao longo de 10 dias, no meio do mato! Como iriam estas crianças conseguir conversar, divertir-se juntas, como iriam comer na mesma roda, colaborar nas actividades…? Tudo eram incógnitas. Evidentemente, o papel dos animadores que os acompanhavam seria crucial, preparando muito bem as actividades, estando atentos às conversas entre os participantes, animando os que estavam tristes, comunicando para que todos pudessem entender, favorecendo a aceitação das diferenças, etc.

Este sonho, de um mundo e uma sociedade diferentes, onde fossem destruídos os preconceitos no olhar e na relação com os outros, começou a tomar forma com um campo, um grupo de miúdos e um grupo de animadores com boa vontade. Ao longo desta bonita história, já com 25 anos (!), os campos de férias passaram a grupos ao longo do ano, as atividades entre os Gambozinos multiplicaram-se e formou-se uma nova Associação – GBZ. De algum modo, o sonho inicial tornou-se realidade em cada conversa, cada amizade e cada vida! Muitas memórias ficaram de crianças que cresceram com a ajuda dos Gambozinos, acreditando mais em si próprios, nas suas capacidades, investindo no seu futuro e tornando-se melhores pessoas. Do mesmo modo, muitas crianças e jovens compreenderam que havia outros, fora do seu universo de relações, muito diferentes, que tinham uma grande riqueza para partilharem com eles.

Os Gambozinos são a prova de que nós próprios, tu e eu, podemos desafiar e transformar as barreiras sociais que nos afastam, dos diferentes, cultural, racial ou economicamente. E que, ao participarmos nesta mudança social, também somos transformados interiormente, tornando-nos mais sensíveis, mais tolerantes, mais atentos, mais amigos de todos. Este movimento tem contribuído com uma verdadeira revolução social, começando pelo coração daqueles que se dedicaram a fazer pontes fora da sua zona de conforto e do seu natural status social. Porque, como nos diz Jesus, tudo o que damos aos outros, com amor, recebemos de volta, multiplicado.

 

P. Lourenço Eiró, sj

Um Advento à minha medida

Um Advento à minha medida

Casa, metro, escola/trabalho, metro, presentes para a mãe, para o pai, para o primo e para aquele tio em terceiro grau que só vemos de ano a ano, metro, casa. REPEAT.

Tão fácil que é perder-me nesta loucura de vida. Tão fácil que é querer fazer tudo e estar em todo o lado e, no fim, não estar em lado nenhum. Nisto, é tão fácil esquecer o verdadeiro significado de Natal e, por isso, depois destes dois anos tão atribulados e tão cheios de inseguranças, quis viver este Advento de uma forma um bocadinho diferente daquilo que tem sido hábito. Mais do que passar por ele, quis vivê-lo. Quis abrandar a minha vida e principalmente o meu coração. Quis “limpar a casa” para receber Jesus, mas quis fazê-lo à minha maneira. E, embora sejamos inundados de propostas de como fazer este percurso até ao Natal, quis ser eu a autora do meu próprio percurso, simples, humilde e ativo, mas acima de tudo, verdadeiro.

Neste Advento propus-me a ser como Maria. A confiar sem fazer perguntas e a levantar-me sem medo de me fazer ao caminho. Ter sempre presente que mais vale uma “casa” simples e humilde, mas cheia de alegria e generosidade, do que um “casarão” frio e vazio.

Neste Advento propus-me a ser como José. A ser instrumento de Deus e ter um olhar atento. Saber observar, ouvir e abraçar, sem que seja preciso dizer nada. Esquecer aquilo que quero e estar ao serviço daqueles que mais precisam.

Neste Advento propus-me a amar. A amar sem medida e de olhos fechados. A deixar os juízos, preconceitos e vaidades da sociedade de parte e ter o coração aberto a todos.

Neste Advento permiti-me errar. Permiti-me não ser como Maria, não ser como José e não amar sem medidas. Permiti-me ser humana e não ficar frustrada a ponto de desistir da minha proposta porque falhei. Ser consciente das minhas limitações não significa que tenho menos fé, pelo contrário, é motor de superação e de querer ser sempre mais como Maria, mais como José e a amar sempre mais.

E, quando a noite de Natal chegar, quero estar pronta para receber Jesus no meu coração e deixar que Ele faça maravilhas. Quero sentir-me preparada para Lhe abrir as portas de minha casa sem medo e entregar-Lhe a minha vida.

A ti, Gambozino, desafio-te a seres sempre mais como Maria, mais como José e a amar sempre mais à boa maneira gambozínica. Confia, porque há uma Luz que nunca se apaga!

Votos de um Feliz e Santo Natal Gambozinos!!

Rezo por todos vocês!

Carolina Sequeira Cabral

Sonhar fora da caixa 

Sonhar fora da caixa 

[LUZES; CÂMARA; (guião, atores, cenários, banda sonora, palcos, logísticas,…) AÇÃO!!! ]

Neste espetáculo que está prestes a acontecer, à semelhança de um campo de férias, os animadores assumem diferentes papéis, sendo que nem todos são de personagens. Carla foi uma das animadas que em 2020 não pôde fazer campo, e, nessa desilusão, por acidente embarca numa viagem emocionante e improvável, que não deixará ninguém indiferente.

Apesar do impacto que a pandemia teve em nós, os Gambozinos, pelos seus 25 anos, decidiram desafiar-se, uma vez mais, a sonhar alto, convidando todos a saírem de suas casas para um momento de celebração da Associação.

A Mega Produção apresenta-nos o desafio que é fazer e ser parte de algo, e a beleza de sermos bem sucedidos nisso. Lembrando-nos que nos GBZ há um lugar para cada um, e que não é preciso pretendermos ser aquilo que não somos, para encaixar; libertando-nos de máscaras e adereços que nos pesam, e aprendendo a confiar que aquilo que falta a cada um poderá ser dado por outro que está a nosso lado, tornamo-nos capazes de, com liberdade, aprendermos a ser quem somos.

Se lhe chamamos Mega não é pela quantidade de dinheiro investido nem de materiais que possuímos, ou, por outro lado, porque pretendemos competir com tantas outras bonitas obras e peças que por aí podemos ver; mas sim, por ser produto da generosidade de cada um, que quando deposta em comum se torna algo muito maior que todos nós. Se é Mega, é pelo que cada um dispõe de si para os Gambozinos, que acaba por edificar a nossa identidade, como pessoas e como movimento, capazes de fazer coisas verdadeiramente grandes, únicas e bonitas.

Fica o convite para cada um vir ver por si, e tirar as suas conclusões. A equipa composta por atores, guionistas, encenadores, músicos, artistas e mão de obra, passará por Lisboa e pelo Norte, para que ninguém fique de fora.

Saudações Gambozínicas, E que se partam muitas pernas! … para não usar a outra expressão

Lourenço Sarávia

Assembleia: Pensar o sonho partilhado 

Assembleia: Pensar o sonho partilhado 

Lembro-me bem da primeira vez que fui à Assembleia dos Gambozinos: nem sabia bem o que era uma Assembleia! Mas como ia ser animadora pela primeira vez, lá fui eu. E… fiquei maravilhada com a magnitude do sonho dos Gambozinos: o que eu conhecia (principalmente os campos de férias) representava apenas uma pequena parte do que era este sonho partilhado por tanta gente.

Foi lá que descobri que não só havia muitas atividades e um acompanhamento comprometido noutros núcleos (em Braga/Porto por exemplo, e eu alfacinha apenas conhecia a capital), como também todo um corpo logístico dividido em vários pelouros para concretizar este sonho. Um corpo de pessoas apaixonadas por um ideal de mundo e de humanidade e que tira valentes lições de humildade e de espírito de comunidade ao pôr mãos à obra antes e depois da Assembleia, para fazer cumprir os objetivos propostos, discutidos e aprovados pela maioria. E com uma dimensão nacional que chega às crianças de Lisboa, do Porto, de Braga, de Santarém, dos Açores, até a portugueses além-fronteiras…

Um corpo de pessoas, muitas caras novas no início, que se tornam amigas e com quem vou aprendendo o que é a santidade na Terra.

Mais do que o detalhe orçamental e o valor “útil” ou monetário de cada atividade, na Assembleia dos Gambozinos, impressionou-me o quão longe conseguimos chegar com os recursos humanos que temos. Concluí no fim: os trabalhadores, ou os animadores “no activo” são poucos, mas a seara é grande, a ajuda de pais/benfeitores é muita, e o sonho é enorme. Poucos mas bons, e motivados por este sonho de um Céu na Terra, de ser Gambozino.

Esta Assembleia anual (a próxima é já no dia 13 de novembro!) é para ti que és sócio, e para todos os que querem fazer parte deste sonho. É para os que não sabem muito bem o que é uma Assembleia, mas vêm para se envolverem. É para os que gostam de discussões acesas sobre “os temas controversos dos campos”. É para os antigos animadores, alguns agora pais de pequenos gambozinos, que vêm relembrar como resolveram problemas semelhantes, de onde crescemos e o que poderemos aprender com outras instituições ou até empresas em situações semelhantes. É para os que gostam de reencontrar as amizades que fizeram ao longo dos Gambozinos, entre animados e animadores. É para os que gostam de sonhar em conjunto, e da forma mais democrática que encontramos.

Esta Assembleia é para ti que queres fazer parte deste grande sonho!

Maria Ravara