1. Como mel para a boca
Jesus ressuscita ao 3.º dia. Este período de 3 dias tornou-se numa referência cultural basilar. A prova? Em A Idade do Gelo 4, Manny exclama:
«Quando estiver morto há mais de 3 dias, para ter a certeza que estou mesmo morto!»
2. Um texto bíblico
Durante o tempo pascal, que se prolonga do domingo de Páscoa até ao domingo de Pentecostes, mergulhamos juntos nos relatos da Ressurreição. Esta semana propomos-lhe reler o mesmo texto de domingo passado, de modo a propor uma nova visão para o esclarecimento.
Maria estava junto ao túmulo, da parte de fora, a chorar. Sem parar de chorar, debruçou-se para dentro do túmulo, e contemplou dois anjos vestidos de branco, sentados onde tinha estado o corpo de Jesus, um à cabeceira e o outro aos pés. Perguntaram-lhe: «Mulher, porque choras?» E ela respondeu: «Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram.»
Dito isto, voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta que era Ele. E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o encarregado do horto, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que o tiraste, diz-me onde o puseste, que eu vou buscá-lo.» Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Rabbuni!» – que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para o Pai; mas vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai, que é vosso Pai, para o meu Deus, que é vosso Deus.’» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» E contou o que Ele lhe tinha dito. (Jo 20, 11- 18)
3. O esclarecimento
Quem escolheu Ele para testemunhar que tinha ressuscitado? Uma mulher. Maria Madalena. O leitor moderno não ficará certamente surpreendido com esta escolha. O mesmo não se poderá dizer dos contemporâneos de Jesus. Na verdade, no Evangelho Segundo São Lucas (24,9-11), os discípulos de Jesus não levavam a sério as mulheres, contrariamente a Jesus, que as escolheu como primeiras testemunhas.
Nem as cartas de São Paulo nem os Atos dos Apóstolos mencionam o papel fundamental das mulheres na pregação da ressurreição.
Em tal contexto cultural, é improvável que se tratasse de uma invenção criada ao longo da transmissão oral sobre a memória de Jesus: porquê escolher como testumunhos mulheres, que suscitavam a incredulidade e a suspeição?
Este é um facto sobre o qual se pode questionar quem se interroga se aquele reencontro com o Ressuscitado aconteceu mesmo, se não foi inventado. Porquê inventar um facto de tal forma surpreendente, o da ressurreição de um homem, Deus-feito-homem, para depois o rodear de testemunhos tão pouco credíveis aos olhos dos seus contemporâneos?
Os cristãos preferem ver nesta escolha de Jesus:
- Um sinal suplementar da veracidade histórica de tal acontecimento;
- A ternura muito particular de Cristo para com as mulheres, testemunhos verdadeiramente fiéis da sua bondade. Foram elas que o seguiram até ao fim e que embalsamaram o seu corpo no sepulcro no dia seguinte ao Shabat.
No Evangelho, a nossa personagem chama-se Maria de Magdala. Magdala é uma pequena cidade localizada na costa do Mar da Galileia, onde Jesus fez numerosos milagres. Encontraram-se recentemente os traços arqueológicos da cidade de Magdala do tempo de Jesus. Maria de Magdala foi, pouco a pouco, ficando conhecida como Maria Madalena ou apenas Madalena.
4. Uma palavra final
💥 Atenção! Concentre-se! 💥
No livro Le problème de Jésus, Jean Guitton (académico, filósofo, 1901-1999) escreveu uma pequena jóia para responder a uma questão que muitos de nós já colocaram: a ressurreição foi um acontecimento real na história dos homens? O excerto é um pouco denso, por isso… concentre-se:
«Chamo histórico aquilo que aconteceu realmente no mundo exterior aos espíritos, aquilo que é acontecimento e não apenas consciente.
E, num segundo sentido, mais profundo, chamo histórico ao que, tendo realmente acontecido, recebe também a aprovação dos homens que procuram a verdade.
Finalmente, e num terceiro sentido ainda mais profundo, chamo histórico ao que foi afirmado por vários testemunhos independentes uns dos outros, em condições tais que a concordância dos seus testemunhos não se pode explicar nem pela influência de um sobre o outro, nem pelo acaso.
É neste sentido que creio poder dizer que a Ressurreição se apresenta como histórica. O que estudei sobre o tema do Túmulo vazio e das aparições (e sobretudo da relação recíproca entre eles), leva-me a pensar que estou perante uma realidade que tem o caráter de um acontecimento, ainda que seja, sobretudo, um TRANS-acontecimento, ou seja: um acontecimento que, embora deste mundo, não é apenas deste mundo.»
Jean Guitton, Le problème de Jésus. Divinité et résurrection, Paris : Aubier, 1953.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.
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