Porque é que a Companhia de Jesus decidiu abrir, agora, um Serviço de Escuta?
Porque temos um desejo profundo de acolher e apoiar as pessoas que possam ter sido vítimas de algum abuso nas nossas instituições. A verdade é que já temos, desde 2018, um sistema de proteção e cuidado de menores e adultos vulneráveis (SPC) que promove uma cultura de bom trato nas nossas organizações e procura prevenir situações de maus tratos e abusos. Este sistema já está preparado para atuar em caso de suspeitas e denúncias, quer os casos ocorram dentro dos nossos espaços quer ocorram no contexto em que as crianças e jovens vivem. No entanto, a estrutura existente – que integra um Delegado SPC em cada instituição, seja um colégio, uma paróquia ou obra social – não está preparada nem vocacionada para acolher e tratar situações de abusos sexuais que possam ter ocorrido no passado.
O que pode uma vítima encontrar no novo Serviço de Escuta?
Poderá encontrar uma equipa motivada, empenhada e preparada para, de forma isenta, acolher, escutar, acompanhar e diligenciar pelo tratamento de situações de abusos que sejam denunciados. Queremos também identificar as necessidades de cada vítima e procurar apoiá-la no que ela precisar, seja ao nível psicológico, espiritual, jurídico, ou outro. Encontrará ainda um Serviço em que pode confiar e lhe dá a garantia de que nenhuma denúncia que chegar fica por averiguar ou tratar.
Como vão apoiar?
O Serviço de Escuta está preparado para, com a colaboração das pessoas preparadas para escutar as vítimas, aferir as suas necessidades e procurar atendê-las. Dará também o impulso para que a denúncia seja investigada. Não está preparado para prestar diretamente apoio psicológico, espiritual ou jurídico, mas sim para identificar quem o possa fazer. Caso uma pessoa precise de apoio especializado, seja de que área for, procuraremos dar resposta através de especialistas externos à Companhia de Jesus.
O que podem garantir a uma vítima que vos contacte?
As vítimas podem confiar na autêntica vontade e capacidade do Serviço de Escuta de bem acolher, escutar e acompanhar. E podemos garantir que nenhuma denúncia encontrará resistências à investigação.
Quem é que uma vítima encontrará no Serviço de Escuta?
Este Serviço é dirigido pela equipa provincial do SPC, do qual sou coordenadora. Sou jurista e estou ligada à área da proteção das crianças e jovens há mais de 20 anos. As pessoas que escutam e acompanham as vítimas são das áreas do direito, psicologia e espiritualidade com vocação, experiência e formação específica. Este serviço conta com o apoio técnico e a supervisão por parte de uma psicóloga com formação e experiência em intervenção psicológica em crise.
O que gostaria de dizer às possíveis vítimas de abusos sexuais que possam ter surgido em Obras da Companhia de Jesus?
Que podem confiar no Serviço de Escuta e nas pessoas que o integram, bem como no desejo sincero da Província de conhecer e tratar os casos e no respeito profundo por cada pessoa e pela ferida que o abuso sofrido causou. E que agradecemos essa confiança.
Quem é a Sofia Marques?
Tenho 43 anos, sou casada, mãe de quatro filhos e duas afilhadas, ligada à área da proteção de crianças e jovens desde 1998 e, em especial, à área do acolhimento residencial. Sou licenciada em direito, pós-graduada em direito de menores. Sou desde 2015 responsável pelo projeto AMIGOS P’RA VIDA, da Candeia (IPSS), projeto que promove relações de apoio por parte de famílias a crianças e jovens acolhidos em instituições. Desde janeiro de 2020 sou coordenadora executiva do projeto CUIDAR (CEPCEP-FCH-UCP), projeto de extensão universitária de apoio a organizações para promoção de cultura de cuidado. Estou ligada desde 2017 à construção e implementação do Serviço de Proteção e Cuidado (SPC) nas Obras da Companhia de Jesus e sou desde outubro de 2020 Coordenadora Provincial do SPC.
Mais informação:
Jesuítas abrem Serviço de Escuta -Notícia
Declaração do Padre Provincial sobre a abertura do Serviço de Escuta
Caixa de Perguntas sobre o funcionamento do Serviço de Escuta
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.