Mártires de Chapotera: processo de canonização enviado para Roma

A sessão de clausura da fase diocesana do processo decorreu no dia 12 de agosto, no Santuário Diocesano de Nossa Senhora da Conceição, no Zobuè, em Moçambique, numa celebração que contou com a presença de cerca de três mil pessoas.

A sessão de clausura da fase diocesana do processo decorreu no dia 12 de agosto, no Santuário Diocesano de Nossa Senhora da Conceição, no Zobuè, em Moçambique, numa celebração que contou com a presença de cerca de três mil pessoas.

O processo de beatificação e canonização dos padres jesuítas Sílvio Alves Moreira, português, e João de Deus Kamtedza, moçambicano, conhecidos como os Mártires de Chapotera, foi enviado recentemente para o Dicastério da Causa dos Santos, na Santa Sé, em Roma. A sessão de clausura da fase diocesana do processo decorreu no dia 12 de agosto, no Santuário Diocesano de Nossa Senhora da Conceição, no Zobuè, em Moçambique, numa celebração que contou com a presença de cerca de três mil pessoas e que foi presidida pelo bispo de Tete, D. Diamantino Antunes.

Os dois jesuítas foram mortos no dia 30 de outubro de 1985 em Chapotera, Missão de Lifidzi, por um grupo armado que os levou da sua casa e violentou, deixando os corpos abandonados no mato. Apesar de os autores morais do homicídio nunca terem sido apurados, D. Diamantino Antunes, acredita que os dois missionários foram mortos porque denunciavam as atrocidades da guerra e defendiam a dignidade do povo da Angónia, sendo considerados, por isso, “testemunhas incómodas” dos abusos das autoridades políticas e policiais. “O crime não teve motivações religiosas, mas o martírio não é só o ódio à fé, mas também às virtudes ligadas à fé, como a justiça ou a caridade”, explicou ao Ponto SJ, D. Diamantino Antunes, em maio de 2021, quando esteve em Portugal para recolher informações e testemunhos para dar seguimento à causa de canonização dos jesuítas.

O P. Sílvio Moreira tinha 44 anos e o P. João de Deus Gonçalves Kamtedza, 54. Estavam em Chapotera há pouco mais de um ano quando se deu o ataque, em 1985. Corajosos, destemidos e lutando sempre pelo povo, os dois missionários escolheram continuar a servir a sua igreja, mesmo depois de serem aconselhados a abandonar a região (até pelos seus superiores), numa altura em que muitos religiosos eram raptados e mortos.

O P. Sílvio Alves Moreira nasceu em Rio Meão, Vila da Feira, a 16 de abril de 1941, sendo o mais novo entre 13 irmãos. Em 1952 entrou no Seminário Menor que a Companhia possuía em Macieira de Cambra, e mais tarde para o noviciado, em Soutelo. Depois estudou Humanidades e Filosofia em Braga, tendo, a seu pedido, embarcado para Moçambique para fazer o magistério, onde regressou mais tarde, depois de frequentar a Teologia na Universidade Católica de Lisboa. Em 1972 foi ordenado sacerdote e regressou a Moçambique onde deu aulas no seminário do Zóbué e depois exerceu atividade pastoral no Matundo. Em 1981 foi para Maputo, onde foi pároco e professor. Depois de um tempo a descansar em Portugal, regressou a Moçambique em 1984, sendo destinado à Angónia, onde foi, juntamente com o P. João de Deus, assistir a comunidade cristã da missão de Lifidzi, concretamente em Chapotera. O P. Sílvio era um homem livre, inteligente, corajoso, empreendedor, vivendo com entusiasmo e alegria as dificuldades e riscos que a vida missionária lhe trazia.

O P. João de Deus nasceu em Vila Mouzinho, na Angónia, a 8 de março de 1930, filho de pai português e mãe moçambicana. Aí foi batizado e fez os estudos secundários em Portugal, no Seminário de Macieira de Cambra. Estudou filosofia em Braga e teologia em Barcelona. Foi ordenado sacerdote na missão de Lifidzi a 15 de agosto de 1964. Entregou-se de alma inteira à missionação do seu povo, primeiro e durante muitos anos na Missão da Fonte Boa e em Satémwa. Nos finais de 1983, foi transferido para Chapotera para evangelizar e assistir pastoralmente as paróquias de Lifidzi e Chabwalo. Era um homem dinâmico, inteligente, sábio, acolhedor, destemido, alegre, comunicativo e grande apóstolo. Amava o seu povo, a sua cultura e a sua língua.

Processo entra agora na fase romana

O processo de beatificação e canonização iniciou-se no dia 20 de novembro de 2021, no Santuário Diocesano de Nossa Senhora da Conceição de Zobuè, com o juramento dos membros da comissão de inquérito nomeada pelo bispo. Entre janeiro de 2021 a junho de 2023, esta comissão interrogou as testemunhas que conheceram os Servos de Deus durante a sua vida e tinham informações sobre o seu martírio e fama de martírio. Terminada a recolha de todos os testemunhos, incluindo a documentação arquivística, foi preparado um dossier bem documentado sobre a vida e o martírio dos dois jesuítas que foi enviado, através da Nunciatura Apostólica em Moçambique, para o Dicastério da Causa dos Santos, em Roma.

 

Para saber mais sobre os Mártires de Chapotera leia aqui.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.