Mãe, o que é o Natal?

Este brilho nos seus olhos faz-me pensar que este é o caminho até ao Natal, o caminho até Jesus. Temos de nos preparar com tempo, e dar tempo aos nossos filhos para se prepararem em amor, em entrega, delicadeza e tempo.

Este brilho nos seus olhos faz-me pensar que este é o caminho até ao Natal, o caminho até Jesus. Temos de nos preparar com tempo, e dar tempo aos nossos filhos para se prepararem em amor, em entrega, delicadeza e tempo.

Li num livro que as peças do presépio se revoltaram porque apenas serviam para pouco mais de 30 dias de contemplação e decoração. O burro e a vaca amuavam, Nossa Senhora e São José faziam o caminho de volta a Nazaré, e o menino ficava a olhar para nós cheio de tristeza nos olhos que diziam: “leva-Me sempre contigo”.

Contei esta história à Benedita e ao Diogo no início do advento do ano passado.

– Mãe, podemos deixar ficar a família de Jesus durante todo o ano? – perguntou comovida a Benedita, enquanto o Diogo pegava num Rei Mago, desembrulhando-o do papel que o envolvia, da caixa que estava guardada na arrecadação nas arrumações de Natal do ano anterior.

Aqueles que andaram à procura de um lugar para dar à luz a luz do mundo não precisavam de procurar mais. Aqui em nossa casa encontraram a morada permanente.

– Avé-Maria cheia de graça, o Senhor é convosco – comecei; também comovida pela beleza de ter entendido que havia neles a vontade de ter sempre Jesus, feito menino, com eles, presente nas suas vidas.

Aos poucos nesse Advento, neste episódio da natividade, cada personagem ganhou espaço no nosso coração e ajudou-nos no caminho para a salvação.

A partir deste dia, decidimos que todas as figuras do presépio estariam num lugar privilegiado, no quarto da Benedita e do Diogo, iluminados pela luz fria de inverno, pelo cheiro da primavera, pelas noites quentes de verão e pelos tons acolhedores de outono. Não foram para a caixa com o rótulo rabiscado a tinta preta a dizer: “PRESÉPIO”, e tornaram um canto de coisas perdidas num lugar de encontro, de misericórdia, de fé e de observação.

E em cada estação, do ano e das nossas vidas, as peças do nosso presépio encontram novas feições e reagem a novas preces.

Este ano Nossa Senhora voltou para o seu caminho com a ajuda de São José. E o ciclo da vida começou. O caminho para Belém foi desenhado com as pedrinhas com que fomos enchendo a nossa mochila durante este ano, pedras mais pesadas, mais leves, arredondadas e outras com mais arestas. Aqui depositámos as nossas dores e as nossas alegrias.

Esta viagem de Nazaré a Belém faz-se também na nossa vida, na vida da Benedita e do Diogo. Encontramos forma de confortar a Mãe de Jesus com o musgo que apanhámos numa viagem a casa do avô.

– Mãe este musgo é para o nosso presépio? – pergunta o Diogo, enquanto tentava raspar delicadamente o musgo do muro com uma colher.

– Sim sim. Levamos o musgo no nosso carro até Lisboa. O que acham?- devolvo.

– Então temos de envolver bem, para que os pés de Nossa Senhora, do seu burrinho e de São José fiquem confortáveis, neste musgo macio. – complementa o Diogo com os olhos a brilhar.

Chegámos a casa depois desta viagem e a preocupação estava em colocar o verde fresquinho pelo caminho até à salvação.

– “Aqui é Nazaré e lá ao fundo Belém”- Disse a Benedita.

Este brilho nos seus olhos faz-me pensar que este é o caminho até ao Natal, o caminho até Jesus. Temos de nos preparar com tempo, e dar tempo aos nossos filhos para se prepararem em amor, em entrega, delicadeza e tempo.

Este ano o caminho continua, Nossa Senhora, São José e o seu burrinho ainda não chegaram, mas nós sabemos que vão chegar àquelas palhinhas para dar luz ao mundo, porque o nosso coração já está cheio deste Amor de Deus por nós.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.