I – Introdução
Motivados pelo exemplo de Santo Inácio, o peregrino, os noviços jesuítas propõem para hoje uma caminhada orante, com o objetivo de despertar os sentidos para saborear o mundo que nos rodeia e do qual somos parte. Encontrar na Casa Comum um lugar espiritual de encontro entre o Criador e a criatura. Um lugar que somos chamados a cuidar, em fraternidade universal.
Para este exercício, somos convidados a tirar 15 minutos do nosso dia e a escolher um lugar para caminhar: no meio da natureza, pelas ruas da nossa cidade, ao sol e ao vento da beira-mar, no pátio de nossa casa, numa praça ou num templo.
Antes da caminhada, escuta (ou lê) algumas pistas para tirar proveito deste tempo favorável.
II – Em caminho
“Naquele dia, Jesus saiu de casa e sentou-se à beira-mar.” (Mt 13, 1)
“Em certa ocasião, Jesus passava, num dia de sábado, através das searas. Os seus discípulos, que tinham fome, começaram a arrancar espigas e a comê-las.” (Mt 12,1)
“Tendo entrado em Jericó, Jesus atravessava a cidade.” (Lc 19,1)
“Jesus passeava pelo templo, debaixo do pórtico de Salomão.” (Jo 10, 23)
Inácio encontrou-se peregrino seguindo os passos de Jesus. Percebeu que ser Seu seguidor implicava “ser em caminho”: em venturosas peregrinações à Terra Santa, no meio de uma Europa em guerra, ou fechado num quarto em Roma, lendo e escrevendo cartas para todo o mundo.
Jesus passou pelo mundo fazendo o bem.
Para salvar, é preciso assumir, é preciso atravessar. Do campo à beira-mar, da cidade ao templo; Jesus mostrou ser o Caminho, sendo “em caminho”. Fazendo-se um de nós, fez do nosso mundo a Sua casa.
Para saber cuidar, é preciso acolher e “sentir” o que a experiência do mundo exterior nos traz, e “saborear internamente”. Propomos que acompanhes Jesus nesta breve travessia pelo teu – e Seu – mundo; que te disponhas a ser encontrado por Ele; que te deixes acompanhar por Ele; que caminhes na alegria da Sua presença.
Abre os sentidos, abre o coração e desfruta do caminho em boa companhia.
III – Acolher
Aprende – com Aquele que sai de casa e se senta à beira-mar – o cheirar e o saborear; do ar fresco da maresia; do calor do dia de verão; ao ambiente do final de tarde no jardim. Repara o olfato e o paladar, inspirando profundamente o ar, saboreando cada momento do caminho.
Aprende – com Aquele que passa através dos campos – o tato. Repara o tato, redescobrindo o que sempre damos por garantido. Como as crianças que aprendem o que é o mundo começando pelo toque, lançando as mãos ao desconhecido. É diferente atravessar um campo de trigo ventoso ou um areal ardente. Voltar ao contacto primário com o mundo, pelo tato.
Aprende – com Aquele que atravessa a cidade – o olhar. Repara o olhar, reparando verdadeiramente no que te rodeia e em quem te rodeia. Uma rua de cidade no verão, já vazia de pessoas e ainda cheia de carros. Uma família a descansar num jardim depois de um ano exigente. O verde do campo, o azul do mar, o céu como tela irrepetível, desde a janela de casa, no final da tarde.
Aprende – com Aquele que passeia pelo templo – a escuta. Repara nos sons desta hora. Repara no som da oração, buscando o silêncio que nunca será total. Há o silêncio externo e o silêncio interno. Nada como apaziguar-me, calar as vozes interiores, para saber escutar o que o mundo não cessa de dizer, mesmo no silêncio.
Aprende com Aquele que estará sempre connosco, o que pode ser para ti “cuidar” deste mundo, que é Casa de Jesus, que é tua Casa e que é “Casa Comum”.
IV – Caminhar
Agora que as pistas estão dadas, propomos que caminhes durante 10 minutos. Se o puderes fazer em silêncio, desliga-te dos auriculares e dos ecrãs de todas as horas e abre-te ao que o caminho for trazendo. Se precisares, deixamos-te com música para ajudar a percorrer o caminho.
No final deste tempo, volta aqui para a conclusão da proposta.
V – Finalizar
Depois desta experiência de caminho e de contacto espiritual com o mundo, convidamos-te a sintetizar o que viveste num desejo audaz, numa ideia bonita, numa decisão simples. Como me sinto chamado a cuidar deste mundo sempre por desvendar? Como posso refletir na minha vida o que experimentei na oração?
Prestando mais atenção ao consumo de água, aos hábitos de consumo como ato social e à reciclagem em casa?
Cultivando uma atitude mais contemplativa e agradecida perante o próximo, Deus e a Criação?
Atendendo às minhas raízes, entregando com alegria mais do meu tempo aos meus avós ou familiares idosos?
Procurando encontrar no meu trabalho, nos meus estudos, no meu futuro, o sentido espiritual que os pode tornar lugar da ação de Deus na vida do mundo?
Conclui esta oração agradecendo, com um Pai-Nosso.
* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.