Escutar e cuidar: balanço de dois anos do Serviço de Escuta

Vamos continuar a percorrer este caminho, de coração aberto, com humildade e esperança, levando-O, através da nossa escuta e cuidado, ao encontro dos mais “pequeninos”. E vamos fazê-lo juntos e em Igreja. É este o nosso compromisso.

Vamos continuar a percorrer este caminho, de coração aberto, com humildade e esperança, levando-O, através da nossa escuta e cuidado, ao encontro dos mais “pequeninos”. E vamos fazê-lo juntos e em Igreja. É este o nosso compromisso.

Hoje é dia 18 de novembro, Dia Europeu da Proteção das Crianças contra a Exploração Sexual e o Abuso Sexual.

Faz hoje 2 anos que nasceu, no seio da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, o Serviço de Escuta com o objetivo de acolher, escutar e apoiar pessoas que tenham sido vítimas de qualquer forma de abuso, seja ele sexual, físico, psicológico ou espiritual, nas instituições da Companhia de Jesus.

Não foram muitos os contatos recebidos nos últimos dois anos através deste canal, o que tem merecido a nossa reflexão.

O Serviço de Escuta contribuiu para que a Companhia de Jesus conhecesse de uma forma mais real, a partir de testemunhos na primeira pessoa, a dureza do impacto dos abusos ao longo da vida.

Contribuiu ainda para que a Companhia de Jesus reconhecesse e pedisse perdão, através dos comunicados emitidos, que também entre jesuítas e leigos ao serviço da Companhia de Jesus há suspeitos de abusos sexuais.

E para que assumisse a responsabilidade pelo que não foi visto, pelo que provavelmente não se quis ou não se conseguiu ver e pelo que pode ter sido visto mas não atendido de forma totalmente séria, responsável e consequente.

A generosidade e confiança com que algumas vítimas nos contactaram, fez crescer em nós o desejo de acolher cada pessoa de forma cada vez mais preparada, de escutar as suas necessidades e de ir ao encontro dos seus direitos, de agir de forma cada vez mais irrepreensível, e de nos empenharmos de forma mais efetiva na reparação integral do seu sofrimento.

A generosidade e confiança com que algumas vítimas nos contactaram, fez crescer em nós o desejo de acolher cada pessoa de forma cada vez mais preparada, de escutar as suas necessidades e de ir ao encontro dos seus direitos, de agir de forma cada vez mais irrepreensível, e de nos empenharmos de forma mais efetiva na reparação integral do seu sofrimento.

Esperamos, por isso, que cada vítima que nos contactou, sinta que encontrou no Serviço de Escuta um porto seguro. Onde conseguiu chegar, não como fim de viagem onde foi apenas para levar mais informação, mas também de onde conseguiu partir, não mais sozinha, para um lugar de reparação integral.

Sabemos que não basta parecer. Queremos ser.

Assim como termos um Serviço de Proteção e Cuidado nos exige ainda mais responsabilidade no modo como, nas Obras da Província Portuguesa da Companhia de Jesus, se previne os maus tratos e se protege, termos um Serviço de Escuta faz-nos renovar o compromisso de que o modo como acolhemos, escutamos e acompanhamos cada pessoa seja – desde logo – um primeiro contributo para essa reparação.

Para isso, precisamos de continuar a aprofundar o conhecimento sobre as mais variadas formas de abuso de poder, suas causas (fatores de risco) e modos de reparação integral, assim como da realidade ainda por conhecer (e reconhecer) dos abusos entre maiores.

Para o aumento do conhecimento, tem contribuído essencialmente o estudo, a formação da equipa provincial do SPC e dos Delegados do SPC das Obras da Companhia de Jesus, mas também o trabalho desenvolvido de forma partilhada com organizações e especialistas, nacionais e estrangeiros.

Destacamos a articulação com as Comissões Diocesanas, com outras Congregações e Institutos Religiosos e com Associações de apoio a vítimas de abusos sexuais, em especial a Quebrar o Silêncio com quem celebrámos recentemente um Protocolo de colaboração. E sublinhamos a total abertura à articulação e colaboração com o Grupo Vita, desde o momento da sua criação.

Destacamos a articulação com as Comissões Diocesanas, com outras Congregações e Institutos Religiosos e com Associações de apoio a vítimas de abusos sexuais, em especial a Quebrar o Silêncio com quem celebrámos recentemente um Protocolo de colaboração. E sublinhamos a total abertura à articulação e colaboração com o Grupo Vita, desde o momento da sua criação.

Temos ainda dedicado grande parte do nosso trabalho à sensibilização de cada vez mais pessoas através da partilha da nossa experiência. Não só dos passos que já demos, mas sobretudo dos passos que ainda estão por dar.

Em especial no último ano, a partir da apresentação pública do Estudo da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, sentimos um crescendo de consciência sobre a temática dos abusos, na Igreja e fora dela, e a consequente procura de apoio para a formação e para a criação de serviços de proteção em organizações da mais variada natureza.

Com o desejo de contribuir para essa sensibilização e formação, o Serviço de Proteção e Cuidado organizou no último ano (2023) 30 sessões de formação para Obras da Companhia de Jesus e para outras organizações, incluindo Dioceses e Congregações Religiosas, num total de 80 horas de formação, tendo abrangido mais de 2600 pessoas.

No final de cada sessão de formação, desejamos que cada um consiga distinguir os mitos da realidade, conheça sinais de abusos, identifique os riscos da sua própria função, conheça o que é esperado de si na relação com o outro e como deve atuar em caso de suspeita ou denúncia. E que queira e consiga responder à pergunta: e eu, o que me comprometo fazer?

No final de cada sessão de formação, desejamos que cada um consiga distinguir os mitos da realidade, conheça sinais de abusos, identifique os riscos da sua própria função, conheça o que é esperado de si na relação com o outro e como deve atuar em caso de suspeita ou denúncia. E que queira e consiga responder à pergunta: e eu, o que me comprometo fazer?

Como demonstram os números divulgados recentemente, no último ano registaram-se mais denúncias de abusos sexuais.

Temos sentido também um aumento dos pedidos de ajuda (consultoria) por parte das Obras da Companhia de Jesus e de outras organizações para o tratamento de “ocorrências” de formas variadas de maus tratos, de menores e de maiores, sejam físicos, psicológicos ou espirituais, mesmo aquelas que, por serem mais subtis, até há pouco tempo não “justificariam” qualquer intervenção. O que é sinal de cultura do cuidado.

Acreditamos profundamente que os espaços e as relações são hoje mais seguros e que os nossos filhos estão, hoje, mais seguros e protegidos do que nós estávamos quando éramos crianças. Estes números e o aumento das “ocorrências” podem significar que mais pessoas têm consciência de que certos atos são abusivos, que há mais pessoas implicadas na escuta e na proteção e que as vítimas pedem ajuda mais cedo, o que é protetor e preventivo de novos abusos. E sinal de esperança.

Acreditamos profundamente que os espaços e as relações são hoje mais seguros e que os nossos filhos estão, hoje, mais seguros e protegidos do que nós estávamos quando éramos crianças. Estes números e o aumento das “ocorrências” podem significar que mais pessoas têm consciência de que certos atos são abusivos, que há mais pessoas implicadas na escuta e na proteção e que as vítimas pedem ajuda mais cedo, o que é protetor e preventivo de novos abusos. E sinal de esperança.

Pelas vítimas do passado e do presente, temos de estar todos mais preparados para escutar e para proteger melhor.

A missão da prevenção, da proteção, da escuta e do cuidado é de cada um de nós. E é de todos.

Vamos continuar a percorrer este caminho, de coração aberto, com humildade e esperança, levando-O, através da nossa escuta e cuidado, ao encontro dos mais “pequeninos” e do que há de mais pequenino em cada um de nós. E fazê-lo todos, fazê-lo juntos, fazê-lo em comunidade – em Igreja. É este o nosso compromisso.

Deixamos um vídeo pedindo a cada um que, no final, responda à mesma pergunta que colocamos a quem ajudamos a sensibilizar e a formar e que nos colocamos a nós próprios: e eu – o que me comprometo fazer para aumentar a cultura do cuidado na minha família, na organização a que pertenço, na Igreja e na sociedade?

 

 

O que é e como funciona o Serviço de Escuta?

Para contactar o Serviço de Escuta pode escrever para [email protected] ou para Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa, ou ligar para o telefone 217 543 085, de segunda a sexta-feira, entre as 9h30 e as 18h.

 

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.