Encerramento do Ano Inaciano – Consagração da Companhia de Jesus ao coração de Jesus

Publicamos as palavras do P. Miguel Pedro Melo proferidas no final da Missa de Santo Inácio ontem em Lisboa, bem como o enquadramento que fez da consagração da Companhia de Jesus ao coração de Jesus ocorrida ontem.

Publicamos as palavras do P. Miguel Pedro Melo proferidas no final da Missa de Santo Inácio ontem em Lisboa, bem como o enquadramento que fez da consagração da Companhia de Jesus ao coração de Jesus ocorrida ontem.

Chegamos ao termo do ano inaciano, no qual fomos convidados a aproximarmo-nos pessoal, comunitária e institucionalmente do ferimento que despoletou o caminho de conversão de Santo Inácio de Loiola. É com imensa gratidão que concluímos este ano celebrativo. A inspiração da conversão de Santo Inácio, sintetizada no lema “ver novas todas as coisas em Cristo”, mobilizou muita da vida pastoral da nossa Província ao longo deste ano. Este sentido de participação comum na missão teve o seu sinal visível mais concreto na celebração do dia 12 de março em Fátima. Porém, muitos outros pequenos e grandes acontecimentos foram acontecendo ao nível local. Por todo este dinamismo, estamos agradecidos.

O lema “ver novas todas as coisas em Cristo”, mais do que um slogan de momento, pretende tornar-se numa janela para aquela conversão contínua a que o Espírito sempre nos convida. Se no início do ano inaciano éramos convidados a olhar o ferimento de Inácio, agora viramos o nosso olhar para o coração aberto de Cristo. Não como apologia de uma outra ferida, mas como uma esperança de que as nossas feridas se tornem em abertura, sinais da nossa permeabilidade ao Senhor em todas as coisas, ícone de um modo de proceder que pode ser também o nosso: o modo do coração aberto de Cristo. Neste sentido, quis o P. Arturo Sosa, Superior Geral da Companhia de Jesus, convidar todas as comunidades e obras a consagrarem a sua vida e missão ao Coração de Cristo.

Farei agora uma brevíssima o introdução à consagração da Companhia de Jesus ao Sagrado Coração de Jesus.

Na segunda metade do século XVII, Santa Margarida Maria de Alacoque tem as visões místicas do Sagrado Coração de Jesus, onde lhe é dito que a propagação desta devoção é entregue ao sacerdote jesuíta Cláudio de la Colombière.

Em janeiro de 1872, cem anos depois da primeira manifestação mística do Sagrado Coração de Jesus a esta monja da Ordem da Visitação de Santa Maria, o P. Beckx, sj, Superior Geral dos Jesuítas, decide consagrar a Companhia de Jesus ao Sagrado Coração de Jesus. Poucos anos depois, em 1883 os Padres da 23a Congregação Geral aprovaram o decreto 46, onde se lê:

“Declaramos que a Companhia de Jesus aceita e recebe com um espírito transbordante de alegria e gratidão o suave encargo que lhe foi confiado por Nosso Senhor Jesus Cristo para praticar, promover e propagar a devoção ao seu diviníssimo Coração”.

A fim de acolher o “suave encargo” que lhe foi confiado pelo Senhor, para promover a devoção ao Seu Coração, a Companhia de Jesus confirmou em 1915, no decreto 21 da CG 26, que o Apostolado da Oração era um bom meio para levar a cabo esta missão, decisão também confirmada por São João Paulo II em 1986.

A 9 de junho de 1972, o P. Pedro Arrupe, sj então Superior Geral da Companhia de Jesus, no centenário da consagração feita pelo Padre Beckx, sj, consagrou novamente a Companhia ao Coração de Cristo. E agora, no encerramento do Ano Inaciano, o atual Superior Geral, P. Arturo Sosa, sj, pediu para se renovar esta consagração hoje, dia 31 de julho de 2022, festa de Santo Inácio de Loyola, com a mesma oração escrita pelo P. Pedro Arrupe.

Promover a devoção ao Coração de Jesus é o que temos feito ao longo da história, e de forma especial com a refundação deste serviço pontifício confiado à Companhia de Jesus que agora tem o nome de Rede Mundial de Oração do Papa (Apostolado da Oração e Movimento Eucarístico Juvenil).

Respondendo ao convite de P. Pedro Arrupe, sj, e dos recentes Superiores Gerais, renovamos esta devoção com fidelidade criativa. O Caminho do Coração é hoje a base e a bússola desta nossa missão de reconciliação e compaixão pelo mundo.

Consagração da Companhia de Jesus ao coração de Jesus

Ó Pai Eterno:

Estando Inácio a orar na pequena capela de La Storta, Tu quiseste, com graça singular atender ao pedido que ele Te dirigia, há muito, por intercessão da Virgem Maria: o de ser posto junto do Teu Filho. Garantiste-lhe o Teu amparo dizendo-lhe: “Estarei convosco”. Tu disseste a Jesus que carregava a cruz que o aceitasse como servo, o que Ele fez, voltando-se para Inácio com estas inesquecíveis palavras: “Quero que nos sirvas”.

Nós, sucessores daquele grupo de homens que foram os primeiros companheiros de Jesus, formulamos também nós a mesma súplica, pedindo para sermos postos juntos a Teu Filho e servirmos sob a bandeirada cruz na qual Jesus está pregado por obediência, com o lado trespassado e o coração aberto em sinal do Seu amor a Ti e a toda a humanidade. 

Nós renovamos a consagração ao Coração de Jesus e prometemos-Te a maior fidelidade pedindo a Tua graça para continuarmos a servir-Te e a servir ao Teu Filho com o mesmo espírito e o mesmo fervor de Inácio e dos seus companheiros. 

Por intercessão da Virgem Maria, que recebeu a oração de Inácio, e diante da cruz, na qual Jesus nos dá os tesouros do Seu coração aberto, nós dizemos por Ele e n’Ele, com toda a profundidade do  nosso ser:

Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de
tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta.

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.