Este texto foi escrito para o novo site do Secretariado das Missões, saiba mais aqui.
No dia 18, 3.º Domingo de Outubro, celebramos, mais uma vez, o DIA MUNDIAL DAS MISSÕES. E, na sua mensagem para este ano, o Papa Francisco escolheu para tema as palavras de Isaías: «Eis-me aqui, envia-me, Senhor». E estas palavras tão lúcidas e generosas são a resposta do Profeta à intensa preocupação divina: «a quem enviarei eu?». E ocorre-nos logo, espontânea, a pergunta: que terá de missionário o profeta e de profético o missionário?
A Igreja é, como Cristo, estruturalmente, profética e missionária. E isso atualmente diz-se «Igreja em saída». Mas, de que espécie de saída se trata? Saída «atual», ou saída «em espírito»? Saída como situação, ou conjuntural, em determinado espaço e tempo, ou saída estrutural, ou como atitude interior, independentemente do espaço e do tempo?
O P. António Vieira, repartido entre o missionário no Brasil e o missionário por cá, pregava: «Entre os semeadores do Evangelho, há uns que saem a semear, outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar à Índia, à China, ao Japão. Os que semeiam sem sair, são os que se contentam com pregar na pátria».
Nesses tempos, os nossos missionários eram, em grande número, os companheiros dos nossos navegantes. E desde aí, ficámos com uma ideia de missão e de vida missionária ligada à aventura do caminho marítimo para a Índia. Fomo-nos habituando a ligar a Igreja Missionária à existência dos missionários, saídos de cá para longínquos países. Como se, nos 1500 anos anteriores, a nossa Igreja não tivesse sido essencialmente missionária.
Quando, em 1927, Pio XI proclamou Santa Teresa do Menino Jesus Padroeira das Missões, a par de S. Francisco Xavier, na nossa ideia de missão e vida missionária deu-se uma evolução, uma revolução.
Fomo-nos habituando a ligar a Igreja Missionária à existência dos missionários, saídos de cá para longínquos países. Como se, nos 1500 anos anteriores, a nossa Igreja não tivesse sido essencialmente missionária.
Nesta mensagem, o Papa Francisco não podia deixar de relevar o aspeto do « Ide por todo o mundo». Interpela-nos: «Estamos dispostos a ser enviados para qualquer lugar, a fim de testemunhar a nossa fé em Deus Pai misericordioso, proclamar o Evangelho da salvação de Jesus Cristo, partilhar a vida divina do Espírito Santo edificando a Igreja?»
Mas, desta vez, o Papa está mais marcado pelo aspeto «levai o evangelho a toda a criatura», esteja ela onde estiver e como estiver. E, naturalmente, o seu interesse mais intenso centra-se nas vítimas da pandemia.
«Interpela-nos a pobreza de quem morre sozinho, de quem está abandonado a si mesmo, de quem perde o emprego e o salário, de quem não tem abrigo e comida. … somos convidados a redescobrir que precisamos das relações sociais e também da relação comunitária com Deus. Longe de aumentar a desconfiança e a indiferença, esta condição deveria tornar-nos mais atentos à nossa maneira de nos relacionarmos com os outros».
«O caminho missionário de toda a Igreja» situa-se aqui, nos antípodas da mentalidade do já longínquo «caminho marítimo para a Índia».
A vocação missionária da Igreja, hoje «interpela quer a Igreja, quer a humanidade, na crise mundial».
Os Apóstolos aqui já não são apresentados como enviados cada um para o seu canto do mundo, mas como os do barco prestes a naufragar. A missão deles agora é a de se unirem, para não perecerem. «Não podemos seguir caminho cada qual por sua conta, mas só conseguiremos juntos».
Sair de onde e para onde? «Chamados à missão, o convite a sair de si mesmo, por amor de Deus e do próximo… oportunidade de partilha, de serviço, de intercessão».
A missão de Jesus realizou-se sobretudo na Cruz, muito mais do que nas suas viagens, Palestina acima Palestina abaixo. «Ele é Amor em perene movimento de missão, sempre em saída de si mesmo, para dar vida.»
(do novo site do Secretariado das Missões – leia mais aqui)
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