As missões e a Província Portuguesa da Companhia de Jesus

A Província Portuguesa está intimamente ligada à expansão missionária da Companhia de Jesus. D. João III conheceu o grupo de 10 companheiros da Universidade de Paris que vão dar origem à Companhia, por Diogo de Gouveia.

A Província Portuguesa está intimamente ligada à expansão missionária da Companhia de Jesus. D. João III conheceu o grupo de 10 companheiros da Universidade de Paris que vão dar origem à Companhia, por Diogo de Gouveia, Reitor do Colégio de Santa Bárbara. D. Pedro de Mascarenhas Embaixador de D. João III na corte Pontifícia, falou com o Papa Paulo III que se mostrou favorável à ida dos Mestres de Paris para Índia. O pedido de D. João III a Inácio de Loyola, é, provavelmente, de Fevereiro de 1540. Foram escolhidos, Simão Rodrigues (português) e Nicolau Bobadilha (espanhol) substituído, depois, por Francisco Xavier.

Percebendo D. João III que poderia aproveitar a Companhia de Jesus, para fundar Colégios e assim obter mais missionários, retém Simão Rodrigues em Lisboa. Fundou Colégios e foi o primeiro Provincial da Província Portuguesa (25.10.1546). Interessou-se por enviar missionários para muitas partes (Ceuta, Congo, Etiópia, Brasil). Em Lisboa foi fundada, a primeira casa que a Companhia possuiu, como própria, Santo Antão-o-Velho, vindo a ser, em 1553, o 1º Colégio em Portugal e o Colégio de Jesus, em Coimbra, primeira casa de formação da Companhia.

Francisco Xavier embarcou, com Paulo de Camerino e o português Francisco Mansilha, na armada da Índia que saiu do Tejo, em 07 de Abril de 1541. Chegaram a Moçambique em Agosto. Francisco Xavier, em Fevereiro de 1542, partiu para Goa, onde chegou em 06 de Maio. Lisboa, com o apoio de D. João III, passa a ser a porta aberta à aventura missionária da Companhia pelo mundo inteiro. D. João III, a quem Santo Inácio chamava o “pai da Companhia”, favoreceu de uma forma notável a realização do objectivo missionário essencial da Companhia, como aparece na Fórmula do Instituto: “ser enviado a qualquer parte do mundo às ordens do Papa”.

Num período de 215 anos, partiram de Lisboa 361 expedições missionárias, uma média anual entre 16 e 17 missionários. De 1600 a 1602 embarcaram 58 missionários portugueses; entre 1629 e 1630, 50 e entre 1700 e 1709, 125. Trabalharam no Japão em 1614, 116 missionários; em 1600 eram 600 em todo o Oriente e um pouco antes da expulsão, no Oriente e América, chegaram a 893. Foram martirizados mais de 150 jesuítas portugueses.

Entre muitos missionários que fizeram viagens de exploração, investigação e reconhecimento, destacamos o Ir. Bento de Góis (identificou o Cataio com a China), o P. António de Andrade (Tibete, Himalaia e nascente do Ganges) e o P. Jerónimo Lobo (Etiópia e Nilo). O P. António Vieira e muitos outros companheiros exploram o Maranhão, o Amazonas e o Tocantins. O P. Gonçalo da Silveira foi o primeiro evangelizador do interior da África.  No campo da investigação missiológica contribuíram os jesuítas portugueses, para a adaptação da liturgia ao modo e estilo dos destinatários: na China, no Japão e na Índia, onde sobressai S. João de Brito.

A expulsão do continente e territórios ultramarinos, a 03 de Setembro de 1759, perpetrada pelo Marquês de Pombal deixou as missões desprovidas de missionários. Depois vem a extinção da Companhia, em 1773, pelo Papa Clemente XIV. Restaurada por Pio VII, após 41 anos de catacumbas, em 07 de Agosto de 1814, retomaa, com renovado vigor, o trabalho. Em 1848 o P. Carlos Rademaker entrou em Portugal. A Província Portuguesa foi restaurada em 25 de Junho de 1880.

Os jesuítas voltaram a Goa em 1890, Belgão, Allepey e Cochim, a Macau em 1890 e a Moçambique em 1881: Quelimane, Tete, Boroma, Coalane, Inhambane, Milange, Chupanga, Zumbo e Lifidzi. A expulsão de 1910 obrigou os jesuítas a exilarem-se, mas vão fundar a Missão do Brasil que se tornou independente da Província Portuguesa, em 08 de Dezembro 1938.

A Missão da Zambézia (Moçambique) é retomada em 1941. Começaram por Lifidzi, depois Boroma (1943), Marara (1944), Fonte Boa (1945), Mpenha (1963), Msalazi (1965) e Zóbue (1966). Tomaram paróquias na Beira, Quelimane, Ulongwe e Tete. Em 1964 abriram a Residência Universitária em Lourenço Marques. No Natal de 1966, P. Pedro Arrupe elevou a Missão da Zambézia a Vice-Província. O Noviciado abriu em 1974 e fechou pouco depois, para reabrir em 1984. Em 1993 a Vice Província de Moçambique passou a designar-se Região Moçambicana da Companhia de Jesus.

Em Angola (Negaje) fundou-se o movimento de missionários leigos “Afris”, em 1966. Em Luanda tomou-se a paróquia de S. Francisco Xavier e fundou-se a residência, em 1973. Em Timor tomou-se o Seminário de Díli, em 1963. Esta missão foi transferida para a Província da Indonésia, em 15 de Agosto de 1986. Em Janeiro de 2000 o P. Geral criou a Região Independente de Timor Leste.

A Província Portuguesa foi, por muitos anos, o centro das atenções de toda a Companhia em relação às missões. Hoje o ímpeto missionário continua privilegiando mais os grupos humanos e não tanto os campos territoriais. Os desafios do nosso tempo direcionam-se mais para os emigrantes e deslocados, para o diálogo inter-religioso e a reconciliação.

P. Francisco Correia sj