É Natal! Pára tudo, não?

Porque o Natal é um processo que dura a vida inteira. Cresce em nós: Na medida em que vamos conhecendo e aceitando a nossa própria pobreza.

Porque o Natal é um processo que dura a vida inteira. Cresce em nós: Na medida em que vamos conhecendo e aceitando a nossa própria pobreza.

Há momentos na vida em que é melhor ficar calado.
Para não dizer asneira, claro.
Mas sobretudo quando não temos verbo que chegue para o que estamos a viver.
Nessas alturas encaixa bem a máxima dos grandes mestres: menos é mais.

O que é mais curioso é que esses momentos aparecem
No meio de tantas outras coisas.
Chegam mesmo que estejamos distraídos ou atarefados, e param tudo.
Porque nos bloqueiam ou porque nos acordam,
De qualquer modo, são um travão fortíssimo!
Todos vivemos episódios destes: ricos e pobres, novos e velhos.
Na experiência de um grande amor…
Num gesto de generosidade que têm para connosco…
Na perda de alguém querido…
Diante da injustiça atroz…
Ou diante do sofrimento…
Nas situações em que a nossa vida encontra um limite.

É Natal!
Pára tudo, não? Que dizer?
Talvez fosse melhor calar.
Prontos ou não, aqui estamos.
Juntos em família ou isolados por amizade aos outros, é agora.
E vêm os dias da abundância.
Abundância que sabe tão bem…
Soam as músicas da época por toda a parte,
Trocam-se mensagens e afectos a toda a hora,
Fazem-se quilómetros de compras,
Preparam-se os melhores manjares em casa,
Não faltam presentes nem gestos de generosidade,
Abundam ainda as memórias mais ternas e as saudades mais antigas.
E é tão bom termos a barriga e o coração cheios.
(Uns mais do que outros, infelizmente)

Mas como o nossos depósitos teimam em esvaziar.
Rapidamente o ambiente festivo se dilui
Nas arrumações e nos preparativos para a vida “normal”.
Assim, passada a festa, paramos enfim.
Silêncio.
Já está? Já passou? O Natal é só isto?
Não é pouco, mas talvez haja algo mais.

Que palavras nos restam para este Evento?
Poucas.
Porque agora temos o Verbo entre nós.
E o Verbo não escreve livros, é O Livro.

Parece que a melhor história da humanidade não precisa de um grande argumento:
1. Deus arriscou depender de nós, fisicamente, fazendo-se bebé.
2. Assim surgiu uma nova Luz que nos faz ver “novas todas as coisas”.
3. E revelou-se a fotografia do Amor mais realista de sempre, Jesus Cristo.

Como é que devemos festejá-lo, então?
Procuremos com a nossa vida inteira esse Deus pobre e humilde.
E teremos o verdadeiro Natal dentro de nós.

Todos os anos o calendário nos põe de novo diante d’O Nascimento.
Mais do que para podermos dizer quantos “natais” já vivemos
Ou quantas boas memórias temos desta bela tradição,
Creio que é para podermos perceber quanto Natal é que já acolhemos.

Porque o Natal é um processo que dura a vida inteira.
Cresce em nós:
Na medida em que vamos conhecendo e aceitando a nossa própria pobreza,
(somos dependentes de Deus e dos outros)
Sempre que conseguimos ver a realidade com a luz da gratidão e da esperança,
(a vida tem salvação, tem Salvador!)
E de cada vez que damos a vida.
(sim, a Manjedoura de Belém tem já a forma da Cruz do Gólgota)

Afinal quanto Natal é que já temos, cá dentro?

 

*O autor escreve de acordo com o antigo acordo ortográfico.

fotografia de Jose Aragones – Unsplash

* Os jesuítas em Portugal assumem a gestão editorial do Ponto SJ, mas os textos de opinião vinculam apenas os seus autores.